A suinocultura brasileira é uma das maiores do mundo. Estamos no quarto lugar no ranking de produção e exportação de suínos, ficando atrás somente da China, União Europeia e dos Estados Unidos. Mas, mesmo com esse sucesso, ainda é possível melhorar em todos os setores dessa cadeia produtiva, principalmente em todo o pré-abate.
Nesta fase que antecede o abate, a melhora constante é sempre necessária, pois possui influência direta na qualidade do produto da cadeia de produção. Assim, é sempre importante considerar as melhores condições oferecidas aos animais neste período para otimizar o abate.
Basicamente são cinco os fatores pré-abate que mais influenciam na otimização do abate de suínos e na qualidade do produto.
Para saber como esses fatores relacionados ao pré-abate influenciam e otimizam a linha de abate se suínos, conversamos com Marcela Manduca Ferreira, médica veterinária, mestranda em sanidade de suínos (Unesp/FCAV) e estagiária de Marketing da Academia Suína.
1. Dieta de suínos: Período de jejum é fundamental
Mesmo sendo importante na produção de suínos, a nutrição é um fator que, segundo estudos, exerce pouca influência sobre a qualidade final da carne no curto prazo (manejo pré-abate), especificamente quando o suinocultor busca alternativas que tenham um custo mais conveniente.
Mas, independentemente disso, é muito importante que, antes do carregamento dos animais para o abate, os mesmos passem por um período de jejum na granja, caracterizado pela retirada de ração, com acesso livre à água.
“Este período deve obedecer ao intervalo de 8 a 12 horas, sendo que o jejum total (do campo até a insensibilização) não deve ultrapassar 24 horas”, explica Marcela.
Segundo a médica veterinária essa prática é importante porque evita a ocorrência de vômitos e congestão dos animais durante o transporte, contribuindo para o seu bem-estar e reduzindo a mortalidade.
“Por outro lado, melhora a biossegurança dos funcionários que realizam a evisceração das carcaças, prevenindo a liberação e disseminação de bactérias pelo derramamento de conteúdo gastrointestinal”, complementa.
2. Genética: Produtividade e melhor comportamento de suínos
A suinocultura atual é um dos sistemas de produção que mais se utiliza do melhoramento genético para alcançar as expressões mais intensas de determinadas características em rebanhos. Marcela diz que essas características influenciam não só a produtividade, mas também o comportamento dos animais.
Segundo ela, existem no mercado suínos de linhagem materna, que se destacam por sua alta prolificidade e habilidade materna – “são animais que tendem a ser mais dóceis”, diz a médica veterinária.
Ela diz que existem também os de linhagem paterna, selecionados para melhor conversão alimentar, alto ganho de peso diário e deposição de carne magra na carcaça.
Além dessas características ligadas à produtividade, Marcela acha importante que essa seleção considere também animais de temperamento mais calmo. “Estes animais são mais manejáveis, facilitando e otimizando todo o processo de pré-abate”.
3. Rastreabilidade: Controle total da granja ao frigorífico
Bastante utilizada em diversos sistemas produtivos, a rastreabilidade consiste em um sistema de registro de identificação de animais. No caso da suinocultura, o suíno é rastreado desde a sua chegada na granja até seu processo de abate no frigorífico.
“Esta ferramenta permite o controle das informações sobre um animal em qualquer fase da produção, permitindo que a indústria alimentícia possa assegurar a qualidade e a procedência de seus produtos”, complementa Marcela.
Com a rastreabilidade, caso ocorram reclamações, o sistema permite que rapidamente seja feita a verificação da origem daquele produto a fim de corrigir o problema de forma mais rápida e otimizada.
4. Imunocastração: facilita manejo pré-abate e favorece o pleno potencial de suínos
A castração é um processo utilizado com certa regularidade em granjas que visam elevada produtividade. “Em suínos machos, a castração elimina a presença das duas principais fontes de odor de macho inteiro – androsterona e escatol”, explica Marcela Ferreira.
Segundo a médica veterinária, o método mais recomendado atualmente é a imunocastração (vacina). Assim, além de oferecer a vantagem da eliminação do odor, esse método:
- Faz com que os suínos mantenham suas características naturais de crescimento de um macho inteiro;
- Evita as preocupações com bem-estar animal da castração cirúrgica:
- Modifica o comportamento agressivo dos suínos sexualmente maduros.
“Esse tipo de manejo facilita o pré-abate e favorece ainda mais o pleno potencial de crescimento dos animais”, diz Marcela.
5. Processo de abate: O bem-estar precisa ser considerado
O manejo adequado na colocação dos animais no boxe de contenção/restrainer, durante os últimos minutos que antecedem a sangria é um dos fatores finais que não podem ser negligenciados, pois podem definir a qualidade da carne obtida.
Por isso, é importante que a condução dos animais até a área de insensibilização ocorra de forma menos estressante possível. Instalações adequadas, manejadores com a máxima paciência e condução de pequenos grupos de animais são dicas importantes nesse sentido.
Da mesma forma, uma insensibilização bem executada não só proporciona um abate humanitário dos suínos, mas também reduz os problemas de qualidade da carne, além de otimizar todo o processamento da carne que seguirá.
Com o avanço tecnológico, Marcela aponta que alguns frigoríficos já utilizam o método de insensibilização com exposição ao CO2. “Esse método propicia redução significativa de fraturas e hematomas, diminuindo também a incidência de carne PSE (pálida, exsudativa e mole)”, explica.
Por fim, quando comparado à insensibilização elétrica, esse método que faz uso do CO2 possui a vantagem operacional de conseguir insensibilizar os animais em grupo, possibilitando maior otimização de todo o processo de abate.