Mais da metade das emissões de gases que contribuem com o efeito estufa são da produção de proteína animal. Pesquisadores da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, estimaram que a produção de proteína animal é responsável por 60% das emissões de carbono dentro do setor alimentar, em todo o mundo.
A pesquisa foi publicada na revista Nature Food, um dos mais renomados documentos acadêmicos em circulação. O artigo indica dados preocupantes sobre o impacto ambiental negativo causado pelo setor de manejo de proteína animal.
A Carne Carbono Neutro é uma solução desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Empraba) para transformar os processos de produção e manejo de proteína animal, principalmente a carne bovina. O conceito visa diminuir os impactos ambientais advindos da produção cárnea, garantir transparência aos consumidores e, simultaneamente, mais bem-estar animal.
Entre a produção de alimentos, os produtos cárneos são responsáveis por 57% das emissões de gases do efeito estufa de todo o mundo. Por ano, são aproximadamente 8 gigatoneladas de dióxido de carbono emitidas para a atmosfera.
O efeito estufa é uma problemática que afeta cadeias produtivas de diferentes setores, além da própria qualidade de vida humana: aumento gradativo da temperatura global, degradação ambiental, redução de terras férteis e alterações profundas do clima em diferentes regiões.
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O que é Carne Carbono Neutro
O conceito de Carne Carbono Neutro foi desenvolvido pela Embrapa com o objetivo de neutralizar os gases metano, que são emitidos pelos animais de pasto e contribuem para o efeito estufa.
Trata-se de um certificado, um selo para produção de carne que torna a plantação de árvores um feito mandatório para os produtores.
É um sistema híbrido de criação de gado e de plantação de árvores, uma integração entre o pasto, lavoura e as florestas, nomeado de Sistema Agrossilvipastoril.
O sistema representa um marco para as questões de sustentabilidade no setor. De acordo com análises da Embrapa Gado de Corte, área especializada na pecuária brasileira, a plantação de 200 árvores por hectare seriam capazes de neutralizar a emissão de metano de 11 bovinos adultos por hectare ao ano.
Bem-estar animal
As projeções indicam impacto ambiental notoriamente positivo. A alteração do sistema de pasto também é benéfica para os animais de corte, que podem circular em um espaço com mais conforto térmico.
Garantir um espaço de qualidade para os animais reflete diretamente nas impressões do consumidor final, que terá acesso a uma carne mais macia e saborosa.
Nos frigoríficos, o bem-estar animal pode ser garantido por meio de medidas corretivas e monitoração periódica das condições de manejo.
Carne de qualidade no prato dos brasileiros
Os consumidores estão cada vez mais exigentes à qualidade do produto e ao manejo animal ao longo da cadeia.
De acordo com o presidente do Instituto Certified Humane Brasil, Luiz Mazzon, “o consumidor está mais interessado em saber de onde vem o alimento que consome, e como este é produzido. Em vários casos, ele está até mesmo disposto a pagar mais se percebe um valor agregado em determinado produto em função da forma como ele foi produzido”.
Assim, atualmente, as pessoas buscam conhecer as condições de vida dos animais nas fazendas de onde sai o seu alimento, e estão sempre atentas ao nível de qualidade dos produtos.
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Carne Carbono Neutro: aumento de produtividade
O selo desenvolvido pelos pesquisadores brasileiros é novidade mundial. A Embrapa foi pioneira em articular um projeto que tratasse de sustentabilidade no setor cárneo, sem deixar de olhar para os produtores.
A metodologia da Carne Carbono Neutro (CCN) é vantajosa para diferentes pontas da cadeia de produção de carnes, inclusive para os produtores que decidem adotar um processo mais sustentável para o manejo de carnes.
Os produtores têm muitos benefícios ao escolher um processo mais limpo e implementar um sistema que mantenha a floresta de pé.
A CCN pode auxiliar na recuperação das pastagens degradadas, o que implica em mais espaço para produção. Há também o aumento da produtividade no espaço atual de criação de gado, mais conforto térmico para os animais e um sistema completamente viável, que não trará mais custos do que ganhos.
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Mercado de Carbono
A aplicação dos conceitos de ESG (Ambiental, Social e Governança, em português) abriu muitas oportunidades para o mercado entender que a prática sustentável também é sobre rentabilidade e projetos econômicos viáveis.
O debate sobre o carbono zero para indústria de carnes já faz parte de agendas mundiais e programas de políticas de sustentabilidade alimentar e ambiental.
As principais indústrias frigoríficas assumiram um compromisso público de neutralização das emissões de carbono até 2040, ano considerado chave para a geopolítica ambiental por marcar outros tratados e acordos que visam a redução ou anulação da emissão de gases poluentes.
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Demanda dos consumidores por alimentos ecológicos
A demanda social e de consumo por produtos de origem sustentável e regularizada para as diferentes dimensões da produção (trabalhadores, terra e animais) é um gancho para agregação de valor significativo, como aponta Juan Carlos Lebrón, superintendente da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu e Executivo da JLC Consultoria para o portal Food Connection.
Lebrón enfatiza que os avanços na área serão rápidos e a comercialização de produtos CCN será acelerada. Além disso, o consultor afirma que os consumidores estão dispostos a pagar mais por esse tipo de produto. O desenvolvimento desse mercado é bastante promissor.
Desafios para uma produção sustentável
Ainda que o leque de oportunidades do campo da Carne Carbono Neutro seja notório e toda a cadeia produtiva seja impactada, um dos desafios para o sucesso da nova linha de produtos brasileiros está na ponta final: como educar cada vez mais consumidores com lições de sustentabilidade? Como estimular maior desembolso pelo consumo de um produto certificado e reconhecido pelos órgãos de pesquisa?
Portanto, o desafio deste negócio é a escalabilidade, para que o valor seja reduzido e possa ficar acessível para mais pessoas. Esses movimentos de negócio são simultâneos e interdependentes.
A marca Viva é a parceira da Embrapa no desenvolvimento da Carne de Carbono Zero. Para o desenvolvimento dessa nova linha o investimento foi de 10 milhões de reais.
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