No mercado de produtos alimentícios, a qualidade dos produtos é, além de uma exigência de órgãos reguladores, um diferencial concorrencial. Para garantir produtos de boa aparência, sabor e durabilidade, há processos rígidos que devem ser seguidos ao longo de toda a cadeia, capazes de garantir desde o estado de saúde dos animais até a qualidade higiênico-sanitária dos produtos.
Neste caso, há algumas diretrizes que podem otimizar os processos cárneos na indústria frigorífica, que vão desde a adoção das Boas Práticas de Fabricação (BPF) até a adesão a programas e ferramentas de autocontrole.
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Boas práticas de fabricação
Na indústria de alimentos em geral, as BPF representam uma importante ferramenta da qualidade para que a indústria alcance níveis adequados de segurança de seus alimentos.
Neste contexto, Allan Tavella, docente da Escola Senai Alimentos (SP), salienta que a adoção das BPF é um requisito da legislação vigente elaborada pelos órgãos competentes e faz parte dos programas de garantia da qualidade do produto final.
“Segundo a Anvisa e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), boas práticas de fabricação são um conjunto de normas e medidas que devem ser adotadas pelas indústrias de alimentos e pelos serviços de alimentação, a fim de garantir a qualidade sanitária e a conformidade dos alimentos com os regulamentos técnicos”, detalha o professor.
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Dessa forma, o maior objetivo da adoção das boas práticas de fabricação na indústria de alimentos é a obtenção de produtos inócuos e mais saudáveis, ou seja, protegidos de qualquer contaminação.
Para isso, é preciso adotar medidas, ferramentas e diretrizes para evitar a ocorrência dos perigos físicos, químicos e microbiológicos anteriormente apresentados.
Contaminação
Antes de definir e apresentar as principais práticas e diretrizes que vão otimizar processos cárneos industriais e aumentar a segurança do alimento, devemos entender o que é a contaminação.
Por definição, a contaminação é a presença indesejável de qualquer matéria ou agente estranhos que não pertencem ao alimento.
Segundo Tavella, a contaminação pode ou não oferecer risco aos consumidores. “A contaminação irá causar maiores riscos a depender da saúde deste indivíduo”, diz.
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O docente explica que a melhor forma de evitar a contaminação na indústria frigorífica é trabalhar para evitar os perigos. “Na indústria frigorífica, os perigos podem ser de cunho físico (peças de madeira, fragmento de borracha/plástico), químico ou microbiológico (bactérias, fungos, vírus e parasitas)”, afirma.
Medidas para evitar riscos
Dentre os vários tipos de indústria responsáveis pela produção de alimentos, os frigoríficos estão entre os que exigem o maior rigor na garantia da segurança e qualidade dos produtos por conta dos riscos elevados relacionados à contaminação e seus efeitos sobre a saúde do consumidor e a confiabilidade da empresa.
Para isso, Tavella ressalta a importância das medidas de prevenção dos perigos físicos, químicos e microbiológicos, que merecem total atenção. “Na indústria frigorífica atual temos uma vasta gama de tecnologias e soluções para deixar esses perigos longe das plantas frigoríficas e dos alimentos fabricados”, salienta Tavella.
Para evitar os perigos físicos, por exemplo, o docente indica que o frigorífico instale algumas barreiras para aumentar a qualidade do processo, tais como:
- Filtros e peneiras
- Barras magnéticas
- Detectores de metais
- Máquinas de raio X e outras soluções
Como criar um ambiente que proteja os alimentos
Outro ponto que merece destaque dentro do frigorífico são os cuidados com a higiene ambiental. “A função da higiene ambiental é a de assegurar - por meio das instalações e edificações, disposição dos equipamentos, da água e da higienização - que o ambiente não ofereça riscos de contaminações cruzadas ao alimento processado”, complementa Tavella.
O professor explica ainda que a higienização é a união de dois procedimentos: limpeza e sanitização. “A limpeza consiste em um processo de remoção de sujidades, geralmente visíveis a olho nu. Já a desinfecção é um processo de redução do número de microrganismos por meio da utilização de técnicas envolvendo aplicação de calor ou compostos químicos, de modo que não ocorra a contaminação do alimento”.
Dessa forma, para adequar a estrutura do frigorífico, há uma série de diretrizes que devem ser seguidas, tais como:
- Tetos, pisos e paredes: devem ser confeccionados em materiais resistentes a impactos, impermeáveis e laváveis. Os cantos devem ser arredondados e não acumular água ou sujidades;
- Portas: devem ser impermeáveis, laváveis e antiderrapantes;
- Janelas: devem ter tela de proteção contra insetos e evitar o acúmulo de sujidades;
- Iluminação; o local deve ser claro, permitindo a realização das tarefas sem comprometer a higiene;
- Ventilação: deve garantir conforto térmico, de modo que evite condensação de vapores, acúmulo de pós e espalhamento de ar contaminado;
Por fim, todos os equipamentos, instrumentos e utensílios inerentes à indústria frigorífica devem ser de materiais que não transmitam substâncias tóxicas, nem odores ou sabores.
Também devem ser absorventes e resistentes à oxidação com a capacidade de resistir a repetidas operações de limpeza e desinfecção.
Programas de autocontrole
No Brasil, a adoção dos Programas de Autocontrole (PAC) é mais um requisito do Mapa, baseado no RIISPOA (Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal), que merece atenção. “Basicamente, os PACs são sistemas desenvolvidos para garantir e assegurar a qualidade, inocuidade e identidade dos produtos reconhecidos pelo Ministério”, indica Tavella.
São elementos de controle para a indústria frigorífica:
- Manutenção
- Águas de abastecimento
- Controle integrado de pragas
- Higiene industrial e operacional
- Higiene e hábitos higiênicos dos colaboradores
- Procedimentos sanitários operacionais (PSO)
- Controle de matéria-prima, ingredientes e material da embalagem
- Controle das temperaturas
- APPCC
- Análises laboratoriais (microbiologia e físico-químicas)
- Controle de formulação de produtos à base de fraudes
Importante ressaltar ainda que durante o desenvolvimento dos PAC, pontos essenciais devem ser descritos de acordo com cada um dos elementos de controle apresentados. Os pontos são:
- Padrão de Conformidade
- Ação Corretiva
- Ação Preventiva
- Procedimento de Monitoramento
- Procedimento de Verificação
- Registro
Por fim, vale ressaltar que a melhor forma de manter os alimentos seguros é investir em diretrizes e sistemas que garantam saúde, segurança e bem-estar ao todo o ambiente de produção e itens trabalhados.
Com essas medidas e diretrizes, a segurança dos alimentos é garantida com esforços combinados de todos os envolvidos na cadeia produtiva de alimentos.
Também é necessário adotar medidas corretivas e envolver toda a equipe, exigindo a obediência de uma série de etapas que devem ser desenvolvidas e constantemente reavaliadas pela equipe técnica do frigorífico.
Para assistir à Masterclass “Diretrizes para otimizar processos cárneos industriais”, com Allan Tavella, Instrutor de Formação Profissional III do SENAI Alimentos, e outros conteúdos digitais, acesse a Plataforma Digital Fispal Tec.
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