O consumidor brasileiro está ficando cada vez mais exigente quando o assunto é consumo de carnes. Mesmo com a última crise econômica, ele não deixou de buscar cortes cárneos com qualidade e características superiores.
Este comportamento vem abrindo um importante espaço para pecuaristas mais especializados, destinados à produção e comercialização das chamadas carnes nobres.
Segundo Fábio Medeiros, gerente do Projeto Carne Angus, o mercado de carnes nobres não para de crescer. “A venda e produção de carnes nobres cresce ano após ano a uma taxa média de 20% ao ano”, indica.
Estima-se ainda que o tamanho deste mercado seja de mais de 200 mil toneladas/ano. Isso considerando apenas uma pequena parte do consumo de carne bovina das classes A e B, embora saiba-se que a classe C também compre os produtos premium para ocasiões especiais.
Existe, portanto, um grande espaço para crescimento que precisa ser muito bem explorado pelos pecuaristas. Mas você sabe dizer o que são carnes nobres e como podemos explorar este mercado para conquistar essa importante fatia dos mais exigentes consumidores?
O que são carnes nobres?
Antigamente, as carnes costumeiramente se dividiam em “carne de primeira” e “carne de segunda”, mas essa designação já caiu por terra. Também muito se comentou que as peças designadas como carnes nobres estavam presentes somente na metade do traseiro de bovinos.
De fato, muitas carnes nobres estão no quarto traseiro de bovinos. Porém, hoje em dia a designação de carnes nobres mudou um pouco. Hoje, as carnes ditas nobres são aquelas mais saborosas, suculentas e macias e podem sim, estar no quarto dianteiro dos animais.
“Há muito tempo, deixamos de considerar os cortes de traseiro como os únicos nobres na carcaça”, indica Medeiros que complementa: “Quando se trabalha com animais de qualidade, podemos preparar cortes nobres, com excelente qualidade tanto do traseiro como do dianteiro. É aí que surgem cortes como o shoulder steak, brisket, short ribs e peixinho, todos do dianteiro”.
Para Medeiros, mesmo estando no dianteiro, estes cortes são extremamente nobres e apresentam excelente qualidade sensorial, sendo macios e bastante suculentos.
Como iniciar a produção para atender este mercado premium?
Todo pecuarista sabe que para iniciar na pecuária de corte é fundamental que se tenha um bom planejamento, capital para investimento, experiência e principalmente tempo, afinal, os resultados não são obtidos do dia para a noite.
O mesmo ocorre com a produção de carnes nobres. Mas se o pecuarista já é experiente, as coisas podem ficar mais fáceis.
Neste sentido, para iniciar a produção de carnes nobres, Medeiros sugere que ter animais superiores e com qualidade é imprescindível. “Tudo começa na qualidade dos animais. Neste ponto, o tripé entre a genética, a nutrição e o manejo adequado são fundamentais”.
Quanto a genética, Medeiros indica ser preciso trabalhar com raças que tem potencial para produção de carne de qualidade.
“Essas raças devem ter facilidade de deposição de gordura intramuscular, além de maior precocidade e conformação carniceira”, explica. Um bom exemplo é a raça Angus, que apresenta genética que atende muito bem essas características de interesse.
Quanto à nutrição, deve-se fazer um ajuste da alimentação para que os animais possam ser abatidos jovens e com bom grau de terminação. Especialmente a quantidade de energia na dieta é fundamental para melhor deposição de gordura.
O Manejo e as práticas de bem-estar animal são igualmente importantes na concepção de Medeiros. “Animais estressados produzem carne dura, de coloração escura, que nada tem a ver com produto premium ou carnes nobres”, comenta.
A preocupação com a venda das carnes nobres também é importante
Naturalmente, animais que fornecem carnes nobres apresentam valor agregado maior no frigorífico. Assim, geralmente os produtores já sabem exatamente o que o frigorífico precisa visto que quando o animal está fora do padrão, provavelmente não será aproveitado.
Além disso, a produção de carnes nobres funciona por meio de parcerias produtor/frigorífico, possibilitando a diferenciação no preço. “Animais de qualidade tem preço diferenciado, sempre que comercializados dentro de um esquema de parceria”, explica Medeiros.
Além disso, o gerente do Programa Carne Angus explica que nada adianta produzir um excelente animal, mas entrega-lo a uma indústria que não possui capacidade de produção deste tipo de produto.
“É aí que entram os programas de qualidade de carne como o Carne Angus Certificada. Eles diferenciam a produção e agregam valor a todos os elos da cadeia produtiva, desde o produtor dos animais até o varejo!”, finaliza.
Esses programas de qualidade trazem benefícios ao produtor, devido a maior remuneração, aos frigoríficos, que colocam carnes de qualidade no mercado e aos consumidores, que podem degustar carnes nobres de qualidade e procedência.