A carne de impressora 3D está crescendo globalmente, com empresas inovadoras em Israel e Estados Unidos liderando o desenvolvimento. No Brasil, a regulamentação recente da Anvisa facilita a expansão deste mercado emergente. Confira mais detalhes a seguir.
A carne de impressora 3D é uma inovação tecnológica que está revolucionando a indústria alimentícia.
Produzida a partir de células animais cultivadas em laboratório, as quais são posteriormente organizadas em estruturas tridimensionais utilizando impressoras 3D, a técnica permite criar uma carne que se assemelha, em textura e sabor, à tradicional, sem a necessidade de abater animais.
Com a crescente preocupação dos consumidores com questões ambientais e éticas, além do aumento da população global, esse alimento surge como uma solução promissora para atender à demanda por alimentos de maneira mais sustentável e ética. A seguir, veja as principais novidades e tendências no setor.
Relacionado: Carne cultivada: conheça a solução sem abate animal
O que é a carne de impressora 3D?
A carne impressa em 3D é feita a partir da coleta de células musculares de um animal.
Essas células são então cultivadas em um biorreator, onde recebem nutrientes necessários para crescer e se multiplicar.
Em seguida, elas são carregadas em uma impressora 3D, que constrói a carne camada por camada, formando um produto final que pode ser cozido e consumido como a carne convencional.
Essa inovação não é apenas uma curiosidade tecnológica, mas uma tendência de mercado que promete transformar profundamente a maneira como produzimos e consumimos. A carne de impressora 3D oferece vantagens significativas em termos de sustentabilidade, eficiência e bem-estar animal.
Carne de impressora 3D ao redor do mundo
A carne feita em impressora 3D está ganhando espaço no cenário global como uma solução inovadora para a produção de alimentos sustentáveis. Esta tecnologia vem sendo explorada e desenvolvida por diversas empresas ao redor do mundo, cada uma com abordagens e objetivos específicos.
Conheça a seguir algumas das principais empresas que estão liderando essa revolução na indústria alimentícia.
Relacionado: Carne cultivada deve chegar ao mercado brasileiro em 2024
Steakholder Foods
A Steakholder Foods, anteriormente conhecida como MeaTech 3D, é uma empresa israelense que se destaca por suas inovações tecnológicas na produção de carne cultivada. Utilizando impressão 3D, ela desenvolve produtos cárneos estruturados, incluindo bifes e outros cortes de carne.
Em 2021, a empresa desenvolveu o maior bife impresso da época. Composto por amostras retiradas de uma vaca, a carne pesava 110 gramas.
Aleph Farms
Também de Israel, a Aleph Farms está na vanguarda da criação de carne cultivada utilizando técnicas de bioimpressão em 3D. A empresa se concentra na produção de bifes e cortes inteiros de carne, cultivados a partir de células animais.
A startup israelense é comprometida com a sustentabilidade e a redução da pegada ambiental da produção de carne. Seu objetivo é criar produtos que possam substituir a carne tradicional sem comprometer a qualidade ou a experiência gastronômica.
Durante a Fi South America 2024, Didier Toubia, CEO da Aleph Farms, trouxe à tona as inovações na produção de carne cultivada em laboratório. “Estamos no começo do processo, mas acreditamos que a carne cultivada é importante para a sustentabilidade do planeta e esperamos que mais empresas comecem a trabalhar com esse tipo de alimento ao redor do mundo”, afirmou.
Se por um lado a sustentabilidade da carne cultivada é entendida como uma tendência, seu escalonamento em nível mundial ainda é uma realidade distante. Para Toubla, é importante focar em bons produtos, utilizando as melhores tecnologias disponíveis para isso.
“Porém, a capacidade de desenvolvimento deste tipo de produto ainda é um investimento caro e de alto risco, dificultando seu escalonamento para outros mercados, como o Brasil. É preciso encontrar uma estratégia sinérgica entre as commodities, a produção do alimento e a inovação para justificar os preços elevados no começo e ter certeza da qualidade do produto e aceite dos consumidores”, ressalta.
Em janeiro deste ano, Israel foi o primeiro país a autorizar a venda de carne cultivada bovina. No Brasil, a empresa tem um acordo com a BRF para produzir e comercializar o produto quando for autorizado pelos órgãos regulatórios.
Mooji Meats
A Mooji Meats é uma startup inovadora que usa impressão 3D para criar produtos cárneos vegetarianos que replicam a textura e o sabor da carne tradicional.
Em 2022, a Mooji desenvolveu uma máquina capaz de produzir carne a partir de células in vitro de células animais ou a partir da proteína de plantas.
A empresa, localizada nos Estados Unidos, tem como objetivo democratizar o acesso à carne de alta qualidade sem os impactos negativos associados à criação de gado.
O foco principal da startup é em tecnologias avançadas de impressão 3D para desenvolver produtos que não só imitam a carne convencional, mas também oferecem benefícios nutricionais adicionais.
Relacionado: Engenharia genética e sua evolução para a indústria da carne
E o mercado de carne feita em impressora 3D no Brasil?
O mercado de carne feita em impressora 3D está começando a ganhar espaço no Brasil, seguindo uma tendência global que visa a produção de alimentos mais sustentáveis e éticos.
Essa tecnologia inovadora tem o potencial de transformar a indústria alimentícia brasileira, oferecendo alternativas viáveis à carne tradicional. Um marco significativo para o desenvolvimento desse mercado no país foi a publicação da Resolução RDC nº 839/2023 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Resolução RDC nº 839/2023
A Resolução RDC nº 839/2023 estabelece os critérios e requisitos para a produção, comercialização e rotulagem de carne cultivada no Brasil. Esta regulamentação é um passo crucial para a introdução e expansão do mercado de carne feita em impressora 3D no país, garantindo a segurança e a qualidade dos produtos para os consumidores.
A resolução aborda aspectos importantes como:
- Definição e classificação: a RDC define claramente o que constitui carne cultivada e os critérios para sua classificação.
- Procedimentos de produção: estabelece normas rigorosas para os processos de cultivo celular e impressão 3D, assegurando que os métodos utilizados sejam seguros e higiênicos.
- Rotulagem e informação ao consumidor: exige que os produtos de carne cultivada tenham embalagens rotuladas de maneira transparente, informando claramente que se trata de carne cultivada em laboratório. Isso visa garantir que os consumidores façam escolhas informadas.
- Controle e fiscalização: a Anvisa deve implementar um sistema de controle e fiscalização para monitorar a produção e a comercialização desses produtos, assegurando conformidade com as normas estabelecidas.
A regulamentação abre as portas para que empresas nacionais e internacionais invistam no mercado brasileiro de carne cultivada.
Com uma população crescente e um aumento na demanda por alimentos sustentáveis, o Brasil apresenta um mercado promissor para a carne de impressora 3D.
Relacionado: BRF aumenta oferta de carnes com carne cultivada
Desafios atuais
A indústria de proteína animal no Brasil é uma das mais importantes do mundo, destacando-se pela sua capacidade de produção, exportação e pela qualidade dos seus produtos.
Embora tenha demonstrado grande flexibilidade e poder de adaptação às mudanças de mercado, com o advento de novas tecnologias, como a carne de impressora 3D, surgem novos desafios que precisam ser enfrentados para que o país mantenha sua competitividade ao nível global.
A indústria de impressão 3D de carne ainda é um campo emergente que requer uma adaptação rápida e eficiente. Um dos maiores desafios para a indústria brasileira é não apenas absorver tecnologia externa, mas também investir no desenvolvimento de tecnologia própria.
Para se tornar um líder no setor de carne cultivada, é necessário investir em pesquisa e desenvolvimento (P&D) de biotecnologia e impressão 3D.
A criação de centros de pesquisa especializados e o incentivo à inovação são passos cruciais para que o país desenvolva soluções adaptadas às suas necessidades específicas e condições de mercado.
A indústria de proteína animal no Brasil enfrenta desafios significativos com a evolução da impressão 3D de carne, mas também possui uma oportunidade única de se posicionar como líder global neste novo mercado. Para isso, é fundamental investir no desenvolvimento e adaptar-se rapidamente às novas tecnologias e demandas de mercado.
LEIA MAIS
- Plant-based & Proteínas Alternativas: conheça as tendências e inovações que atendem à expectativa do consumidor global
- [Ebook] Tendências em proteína animal para 2024 e depois
- Descubra as tendências de consumo para a indústria de proteína animal em 2024
- Carnes: soluções em sustentabilidade, da indústria ao pós-consumo
- Como superar os principais desafios da indústria de carne suína brasileira