As fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul nesta semana causaram estragos significativos no setor pecuário da região, afetando a produção de proteína animal. Milhares de bovinos, suínos e aves criados para consumo foram impactados, com centenas sendo arrastados pela correnteza ou se afogando em galpões inundados.
O estado corresponde por 6,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil (12,7% da agropecuária; 6,1% da indústria; 6,0% de serviços). A Confederação Nacional dos Municípios (CNM) estima perdas de R$ 435 milhões para a agricultura, de R$ 134,7 milhões para a pecuária, de R$ 92 milhões para a indústria, de R$ 37,5 milhões para comércios locais e de R$ 52,2 milhões para os demais serviços com a tragédia no RS.
Mesmo em regiões menos afetadas pelas chuvas, milhares de animais agora enfrentam o risco de falta de alimento e outros problemas ocasionados por bloqueios nas rodovias. Estes incluem danos à infraestrutura, interrupções no abastecimento de água, falta de funcionários e paralisação dos abates.
Paralisação das operações e impacto na indústria
O Rio Grande do Sul é um dos principais produtores de carne do país. De acordo com o IBGE, o estado acumula um rebanho de quase 12 milhões de bovinos, 573 mil de porcos e 22 milhões de galináceos. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o estado detém 11% da produção de carne de frango e 19,8% da produção de suínos nacional, que são direcionados para consumo nas gôndolas do próprio estado e para a exportação. Algumas das regiões mais impactadas são grandes produtoras agropecuárias, como o Vale do Taquari, que abate quase 2 milhões de porcos por ano.
Em nota, a ABPA estimou que pelo menos 10 unidades produtoras de carne de aves e suínos estão paralisadas ou enfrentando dificuldades extremas para operar. A normalização dessas operações pode levar mais de 30 dias.
Além das consequências diretas, a chuva também está causando problemas logísticos e de infraestrutura que podem impactar o bem-estar de milhares de animais. Inclusive em regiões menos impactadas pela chuva, que dependem das rodovias e de outras cidades para suas operações.
Ainda não há um balanço de prejuízos econômicos ao setor agropecuário, relatam as entidades do setor produtivo. A prioridade agora é salvar vidas, repetem os dirigentes da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav) e do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do Estado (Sips), mas o cenário é preocupante para as empresas.
Desafios na distribuição e abastecimento
Com os bloqueios nas estradas, a principal preocupação é a instabilidade no fornecimento de ração e no transporte de animais, assim como funcionários. A situação é agravada pela paralisação dos abates. Em São Sebastião do Caí, o frigorífico Agrosul Agroavícola teve que suspender as operações por não ter condições de operar – tanto pela barreira logística como pela falta de recursos humanos. A planta abate 100 mil aves por dia e recebe animais de 90 municípios gaúchos.
O impacto na cadeia de suínos também é grande. O Estado abate 40 mil animais por dia e praticamente todas as empresas tiveram os fluxos de abate interrompidos ou afetados, seja por inundações ou pela questão logística.
A preocupação com a indústria de proteína animal do estado é significativa, considerando que o Rio Grande do Sul possui 112 indústrias com Selo de Inspeção Federal (SIF) ativos exclusivamente para carne, o que o coloca como o quarto estado com mais estabelecimentos SIF habilitados para a produção de carne no país, conforme relatado pela Agrifatto em entrevista para o portal DBO. A ABPA apontou ainda que os “núcleos de produção enfrentam não apenas perdas estruturais, mas também de itens básicos como água, luz e telecomunicações”.
Como ajudar
O Governo do Estado reativou seu canal de doações para a conta "SOS Rio Grande do Sul", pela Chave pix (CNPJ): 92.958.800/0001-38 - Instituição Banrisul.
Os recursos recebidos pela campanha serão integralmente revertidos para o apoio humanitário às vítimas das enchentes e para a reconstrução da infraestrutura das cidades. Com o canal oficial de doações, o governo centraliza a ajuda financeira, fornece segurança ao doador e amplia a transparência da alocação do dinheiro, uma vez que a movimentação dos recursos passará por auditoria e fiscalização do poder público.