Há alguns dias participei de uma rodada de apresentações de startups e, num determinado momento, o interlocutor da empresa que viria na sequência sentou-se na mesa ao meu lado e começou a anotar continuamente em seu notebook, ele parecia desligado de tudo e dando pouca importância ao que estávamos discutindo.
Terminados os dez minutos do seu antecessor, sem falar nada o rapaz tomou o cabo HDMI da TV e começou a jogar conosco em um ambiente similar ao de nossa empresa, cheio de contribuições para os problemas que manifestamos no pitch anterior. Ele estava atento ao que falávamos e em tempo exíguo inseriu vários tópicos que tratamos em um software desenvolvido exclusivamente para nós.
Plagiando um de nossos anfitriões na oportunidade, startups são empresas sólidas e enxutas, ágeis em identificar necessidades e atendê-las. Em tempos de transformação, agilidade e lean (enxuto) são duas palavras que passam a ser com frequência associadas entre si e podem significar a sobrevivência ou não das empresas.
Muitas empresas dos mais diversos setores da economia já entenderam que, para se manterem competitivas na Indústria 4.0, torna-se estratégico realizarem parcerias com pequenas e grandes empresas, além dos stakeholders¹ como um todo. Isso porquê já não é mais possível acompanhar a evolução apostando apenas nos recursos internos, sendo cocriação e ecossistema de inovação expressões de ordem no recente vocabulário corporativo.
Falando de produtos e serviços, num ambiente em que a realidade virtual pode substituir as agências de viagem, ou onde os eletrodomésticos farão as compras sem necessariamente frequentarem as gôndolas de um supermercado, a concorrência pode surgir de qualquer lado e é preciso preparar-se para conviver com ciclos de vida cada vez mais curtos e, por consequência, inovação a todo momento.
Indo além no raciocínio, as empresas começam a se adaptarem aos novos tempos, tornando-se mais flexíveis para acolherem as tendências. Uma startup, por exemplo, a maioria das vezes não tem como atender a todos os burocráticos meios de qualificação como um fornecedor padrão, e normalmente não possuem um caixa suficiente para receber seu pagamento 30 dias após a execução dos serviços ou a entrega dos produtos.
Assim, formam-se as parcerias, onde o risco existe e convive com as possibilidades de ganhos face aos concorrentes por atenderem com prontidão e inovação às aspirações dos clientes e da sociedade como um todo. Talvez por isso muitas organizações inovadoras, em nome próprio ou associadas a outras entidades, lançam editais e estimulam eventos para que as startups apresentem seus produtos e ideias, eventos esses nomeados Hackathons ou com termos similares.
Interessante reparar que as inovações e soluções são em sua maioria melhorias em desperdícios, no mais puro pensamento lean como o conhecemos. São exemplos a redução de ociosidade de produtos como no dilema Uber ou carro próprio; prevenção de defeitos com controles e processos inteligentes tomando as suas próprias decisões e; otimização de movimentação com cursos online em detrimento dos presenciais.
De forma resumida, o futuro é agora e suas regras de negócios estão moldadas num processo de transformação contínua (provável termo sucessor da melhoria contínua). Assim, não há mais que se falar em empresas grandes ou pequenas e sim em empresas ágeis / enxutas e as jurássicas, estas últimas fadadas à extinção, por não entenderem ou se adaptarem ao mundo atual.
¹Stakeholders – considera não somente os clientes, mas também outras partes como os colaboradores da organização e a sociedade como um todo, enfim, todos aqueles que possam interessarem-se ou se beneficiarem dos produtos ou serviços da empresa.