Em ocasião do Dia Internacional das Florestas, celebrado em 21 de março de 2022, o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres, destacou a necessidade do manejo sustentável diante de um cenário em que são destruídos cerca de 10 milhões de hectares de florestas anualmente no planeta – o equivalente à toda área plantada no Brasil.
Em um discurso, Guterres destacou como as florestas "servem como filtro, fornecendo água e ar limpos e ajudando a regular o clima, influenciando os padrões de chuvas, refrescando áreas urbanas e absorvendo um terço das emissões de gases do efeito estufa".
Depois de séculos de prática de desmatamento sem grandes preocupações, ao longo das últimas décadas a humanidade se deu conta da necessidade de balancear o ritmo da extração de madeiras, e tem adotado algumas práticas em apoio à preservação do meio ambiente, o que tem impacto no setor de embalagens, muito usadas na indústria de alimentos.
A produção com fins comerciais da WestRock, por exemplo, que envolve árvores de pinheiro (Pinus taeda) e eucalipto (Eucalyptus dunnii), representa cerca de 53% das áreas da empresa, enquanto 47% são dedicadas à conservação de florestas nativas. Pode parecer um número muito alto à primeira vista, mas os benefícios são conferidos a longo prazo.
"Consumir esses produtos garante que as florestas plantadas continuarão existindo e exercendo o seu papel: fornecer ao mercado matéria-prima de fonte renovável, biodegradável e reciclável, além de remover da atmosfera toneladas de CO² e manter o carbono estocado até o final do seu ciclo de vida", diz Taís Toledo, coordenadora de sustentabilidade da WestRock no Brasil.
Entre os impactos positivos em relação à sustentabilidade florestal, constam a manutenção da cobertura vegetal, com a conservação de habitats animais, e o equilíbrio do regime hídrico, com melhoria da qualidade da água de aquíferos e lençóis freáticos, além da manutenção de nutrientes e permeabilidade do solo.
Produção florestal no Brasil
Segundo informações do Instituto Brasileiro de Árvores (IBÁ), a indústria de base florestal compõe um importante segmento da economia brasileira, somando US$ 11,3 bilhões de dólares em exportações em 2019 (4,3% do total brasileiro), com geração de cerca de 3,75 milhões de empregos (diretos e indiretos), além da geração de R$ 13 bilhões em tributos (0,9% da arrecadação nacional).
De acordo com os dados mais recentes da Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura (PEVS) divulgados em 2020 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Brasil conta com 9,6 milhões de hectares em área de florestas plantadas. Dentro disso, 77,3% (7,4 milhões de hectares) de eucalipto e 19% (1,8 milhão) de pinheiros, com apenas 3,7% (354 mil) referentes a outras espécies.
Tal produção florestal está presente em 4.868 municípios espalhados pelo país, e teve o valor de R$ 23,6 bilhões, sendo 20,2% em extração vegetal e 79,8% em silvicultura – note-se que em 1996, por exemplo, a proporção era invertida, com cerca de 60% em extração e somente 40% em silvicultura na produção primária florestal.
Taís ressalta que, ao optar por produtos que respeitem a conversão florestal, as "indústrias atendem às expectativas de uma sociedade cada vez mais consciente sobre seu papel no mundo e seu dever no combate às mudanças no clima". "Nossas florestas nativas e plantadas contribuem para a recuperação de áreas degradadas essenciais para aumentar a resiliência dos sistemas naturais que mitigam os impactos das mudanças no clima", complementa, destacando também que "toda a cadeia produtiva da WestRock retira mais CO² do que emite".
Certificações
Um indicativo de boas práticas pode ser a presença de um selo na empresa produtora de embalagens, como o FSC (Forest Stewardship Council), que emite uma certificação às empresas florestais que forem avaliadas respeitando questões ambientais, econômicas e sociais, com acompanhamento anual para verificação, ou o PEFC (Programme for the Endorsement of Forest Certification), que verifica práticas sustentáveis na cadeia produtiva de empresas ligadas à extração de madeira.
Taís explica que, para obter a certificação, a empresa deve seguir alguns critérios, como comprovar o uso racional dos recursos florestais, obedecer às leis em todos os níveis federativos, zelar pela biodiversidade e o solo, publicizar dados referentes ao manejo, ter programas de responsabilidade social, monitorar os indicadores da condição florestal e ter o direito legal de posse claramente definido e comprovado por documentação.
Toledo ainda destaca outros selos como o SFI (Sustainable Forestry Initiative) e o IMG (Independently Managed Group), que verificam empresas com atuação em parte da América do Norte, por exemplo.
Redução do uso de papel na indústria
A especialista em sustentabilidade ressalta que, além do manejo florestal, a redução do uso de papel também pode ter efeitos benéficos na indústria. "Por exemplo, ao projetar uma caixa que consuma menos papel, conseguimos mensurar o impacto ambiental com a redução de consumo de água, energia elétrica, geração de resíduos e emissões de carbono nas operações", diz, destacando uma filosofia de "5 Rs": "Repensar, reduzir, reutilizar, reciclar e regenerar".
"Nos últimos anos, a sustentabilidade empresarial e os três pilares do termo ESG (Environmental, Social and Governance) deixaram de ser um tema paralelo para se tornar o ponto central e norteador no radar de vários stakeholders, que atualmente já esperam das empresas uma postura ativa em diversos temas críticos para os negócios e a sociedade. Entendemos que essa tendência veio para ficar", continua Taís.
Ela ainda destaca outras formas de suavizar os impactos ao longo de parte da produção: "a cogeração de energia, a partir da biomassa da floresta e o licor preto, resíduo da fabricação da celulose reinserido na cadeia produtiva, é responsável por gerar cerca de 85% da energia que necessitamos. A bioenergia é uma fonte renovável, segura e fundamental para a redução de emissões, principalmente quando comparado ao uso de combustíveis fósseis", conclui.
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