A celebração mundial do Dia da Terra, em 22 de abril, nos lembra da responsabilidade na conservação do planeta, seja dos órgãos públicos, das empresas ou da sociedade civil. Este ano, a campanha foca na redução do uso de plástico, com um pedido para a diminuição de 60% na produção do material até 2040.
A indústria alimentícia tem grande participação no uso de plástico e precisa colocar em suas agendas a sustentabilidade desde a produção até a gestão dos resíduos pós-consumo.
"Todos nós sabemos que o setor de embalagens cresce a uma taxa alarmante, o que torna ainda mais importantes que as tendências sejam adequadas e sustentáveis. Há também uma pressão de consumidores, órgãos reguladores e outros envolvidos por embalagens mais sustentáveis. Tudo isso impacta você e eu. E a nova tendência segue em direção à sustentabilidade na nossa indústria", afirmou Pierre Pienaar, presidente da WPO, durante congresso da Fispal Tecnologia 2023.
“As embalagens e a maioria dos plásticos estão no foco dos consumidores e recebendo seu escrutínio, o que tem resultado em avanços significativos na sustentabilidade. Mas esse tem sido um desafio complicado, como muitos das indústrias já sabem", concluiu.
Eloísa Garcia, diretora geral do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), diz que uma das missões dos setores público e privado hoje é evitar ao máximo que qualquer embalagem chegue ao aterro sanitário. Para tanto, há tecnologias disponíveis e acessíveis.
“Não existe a idealização de um mundo sem plástico porque os materiais plásticos têm função muito significativa. Esses materiais têm que ser recicláveis para aproveitá-los ao máximo”, destacou a especialista em entrevista ao Food Connection.
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Plástico biodegradável
Na indústria alimentícia, a substituição de materiais não recicláveis é urgente e novas tecnologias estão sendo desenvolvidas para suprir essa necessidade.
O Relatório Global de Compras Ecológicas de 2021 da Trivium Packaging, empresa global que fornece embalagens metálicas recicláveis, aponta que 83% dos entrevistados com menos de 45 anos estão dispostos a pagar mais por embalagens sustentáveis. Outro dado importante é que 67% dos participantes se identificam como ambientalmente conscientes. A pesquisa ouviu mais de 15 mil consumidores em toda a Europa, América do Norte e América do Sul.
Segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos 2021, divulgado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), a geração de resíduos sólidos urbanos (RSU) no país “sofreu influência direta da pandemia da covid-19 durante o ano de 2020, tendo alcançado um total de aproximadamente 82,5 milhões de toneladas geradas, ou 225.965 toneladas diárias. Com isso, cada brasileiro gerou, em média, 1,07 kg de resíduo por dia”. No panorama anterior, os plásticos encabeçaram a lista de RSU com 16,8%, aproximadamente 13,8 milhões de toneladas por ano.
A empresa brasileira RES Brasil, especializada em tecnologias de plásticos biodegradáveis, tem um grupo específico de soluções para tornar as embalagens plásticas mais sustentáveis e fornece os aditivos d2w, d2pAM e d2pEA.
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Ações da indústria em reciclagem
Os diferentes tipos de plástico apresentam para as cooperativas de reciclagem grandes desafios relacionados à sua reutilização. Para que esses materiais não sejam descartados, algumas das maiores companhias de alimentação estão tentando resolver essas questões.
A Unilever, por exemplo, vem apostando alto na reutilização do plástico, inclusive dos plásticos maleáveis, que são, geralmente, descartados pelas cooperativas de reciclagem pela dificuldade de reutilização do material a um preço acessível.
Mesmo com os desafios, até 2025, a companhia pretende cumprir três metas principais relacionadas à reciclagem. A primeira é reduzir o uso da resina virgem pela metade. Depois, ter 100% das embalagens recicláveis, retornáveis ou compostáveis. E, por fim, coletar mais plástico do que coloca no meio ambiente.
“São metas desafiadoras, embora algumas estejam perto de serem alcançadas”, diz Zita Krammer, gerente de Embalagem e Sustentabilidade da Unilever.
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Descarte consciente de embalagens
Para ajudar a sociedade civil a fazer sua parte na diminuição dos danos do plástico para o meio ambiente, a Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas não Alcoólicas (ABIR) se uniu ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e à Associação Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (ANCAT) para lançar a campanha de comunicação "Crie Esse Hábito".
Um vídeo informativo, fruto de Acordo de Cooperação Técnica, traz informações sobre o descarte correto de embalagens alimentícias consumidas fora de casa. Com a parceria da ANCAT, a campanha também dá destaque para importância e valorização do trabalho dos catadores de materiais recicláveis do país.
"Incluir os catadores de materiais recicláveis em uma grande campanha como essa faz todo o sentido. Os catadores são base da cadeia da reciclagem e fazem parte do cotidiano da sociedade. Por isso, além da atividade fundamental que fazem na coleta e separação de resíduos, os catadores são agentes de conscientização ambiental, por representar esse trabalho no dia a dia das pessoas. Essa conexão entre catadores, setor público e iniciativa privada é o que a ANCAT acredita para fazer avançar os números da reciclagem e os resultados sociais e a economia circular”, afirma Roberto Rocha, Presidente da ANCAT.
Ministério do Meio Ambiente reafirma que Projeto de Lei do “Oceano Sem Plástico” é prioridade
No dia 4 de abril, diante de representantes de 19 organizações das 80 que compõem a campanha Pare o Tsunami de Plástico, o secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), José Paulo Ribeiro Capobianco, reafirmou o apoio ao Projeto de Lei 2524/2022 (conhecido como “PL do Oceano Sem Plástico”). Desde outubro do ano passado, esse Projeto tramita na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.
Capobianco destacou o compromisso do governo junto à sociedade civil para a adoção de medidas concretas no combate à poluição por plástico de uso único e sem reciclabilidade em todo o seu ciclo (da extração da matéria-prima à comercialização). “Esse Projeto de Lei é uma prioridade. Somos favoráveis em todo o seu conteúdo. Por essa gestão, é tratado como uma pauta positiva e favorável”, enfatizou.
O reconhecimento do protagonismo de catadores e catadoras de materiais recicláveis na gestão de resíduos no país é um dos aspectos mais relevantes do PL, que propõe a inclusão desses trabalhadores no Programa Federal de Pagamento por Serviços Ambientais.
“Esse projeto é fundamental para nós, catadores, porque não há valor algum no plástico descartável de uso único e sem reciclabilidade, que é jogado no lixo. Esse material volta ao meio urbano, aos aterros, rios e oceano como um poluidor e ainda vira reservatório para o mosquito da dengue”, observou Ronei Alves, do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR).
O Projeto de Lei (PL) 2524/2022 foi construído de maneira plural, com organizações da sociedade civil, representantes de movimentos sociais e associações, como catadores de material reciclável, e representantes de associações das indústrias de materiais alternativos ao plástico, como papel, alumínio e vidro.
Ele propõe um novo modelo de produção e uso que vai reduzir a quantidade de plástico descartável colocado no mercado, mantendo os itens em circulação por meio do reuso e da reciclagem. Nasceu, portanto, alinhado com as mais avançadas discussões no mundo sobre a poluição por plástico, hoje, apontada pela ONU como a segunda maior ameaça ambiental ao planeta, precedida apenas pela emergência climática.
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