Há anos o Brasil vem sendo reconhecido como um grande produtor de carne. Porém, alguns casos recentes colocaram em xeque a qualidade da pecuária brasileira.
Entre estes casos, pode-se citar a da tão falada “carne fraca” e os embargos norte-americanos à carne bovina brasileira decorrentes abcessos nas carcaças decorrentes de erros na vacinação de aftosa.
Tais fatos, apesar de pequenos para o volume produzido de carnes anualmente, arranharam a imagem da carne brasileira no mercado externo e interno.
Considerando essas ocorrências, manter a máxima sanidade das carnes (um dos alicerces do sistema produtivo brasileiro), tanto na fazenda quanto em frigoríficos é ação primordial para que o país se mantenha sempre competitivo.
Mas como manter a máxima sanidade das carnes a ponto de contribuir (e manter) com o já bom status sanitário da carne brasileira?
Porque manter a sanidade das carnes é tão importante?
A pecuária brasileira é caracterizada por ter uma sólida estrutura de prevenção e controle dos principais problemas que podem prejudicar a sanidade animal e do consumidor. Pecuaristas e indústrias do ramo entendem que a sanidade deve sempre ser uma preocupação brasileira.
“As carnes podem oferecer riscos quando adquiridas direto pelo consumidor ou ainda quando utilizadas como matéria prima de diversos produtos derivados pela indústria, portanto mantê-las com boa saudabilidade em todas suas etapas é fundamental”, explica a professora do curso de medicina veterinária da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Cléia Ornellas.
Além disso, a sanidade das carnes tem relação direta com a competitividade, como comenta e diretor de relações institucionais da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal) Ariel Antônio Mendes:
“A sanidade é importante para o país ser competitivo, evitando perdas e mantendo as portas do mundo sempre abertas”, comenta.
Segundo o diretor de relações institucionais da ABPA, o país exporta para os mais exigentes mercados mundiais graças à excelência dos cuidados sanitários. “Manter o plantel saudável evita perdas milionárias decorrentes de eventos sanitários negativos”, opina.
Além disso, Mendes explica que o Brasil exporta grandes volumes de carne ao mundo todo por não enfrentar qualquer restrição em relação ao seu status sanitário, provando sua qualidade e eficiência sanitária.
A percepção de qualidade do consumidor ainda se relaciona com a sanidade
Até parece estranho afirmar isso, mas o consumidor comum não tem a real percepção sobre a sanidade das carnes que ele consome, muitos deles não sabem nem exatamente o que é sanidade.
“A maioria dos consumidores desconhece os reais riscos que existem nas carnes, visto que geralmente utilizam alguns parâmetros de qualidade para fazer as suas escolhas, caso da cor, aroma/odor, textura”, explica a professora da UFMG.
Cléia complementa: “O que se percebe é que na ausência ou em caso de alterações em alguns destes parâmetros existe a rejeição por parte do consumidor”.
Porém, essas percepções podem não diminuir o risco de transmissão de doenças, uma vez que algumas alterações são imperceptíveis, reforçando-se assim a importância do Serviço Oficial de Inspeção e da conscientização do consumidor para que adquira apenas produtos de empresas/industrias inspecionadas.
Essa opinião também é compartilhada por Mendes. Segundo o diretor da ABPA, os cuidados com a sanidade objetivam, principalmente, oferecer tranquilidade a quem consome os produtos.
Mas afinal, como manter a sanidade das carnes?
Para Cléia, buscar a sanidade das carnes representa uma ação que depende de planejamento, execução e manutenção que visam prioritariamente reduzir os riscos causados pelos agentes de natureza física, química ou biológica.
Segundo a professora, ações como programas de vacinações, manejos adequados, incluindo práticas de bem-estar animal, orientação e supervisão veterinária constante são ações a nível de fazenda fundamentais para manter a sanidade. Cléia cita ainda que a sanidade deve ser motivo de preocupação também por parte das indústrias de abate ou de processamento de produtos derivados:
“As indústrias do setor devem seguir programas de Boas Práticas de Fabricação (BPF’s) e de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) ou outros que permitam reduzir os riscos existentes e inerentes ao sistema de produção”.
Mendes, por sua vez explica que a mantença da sanidade das carnes é possível se existirem três fatores-chave:
- Investimentos constantes em pesquisa, novas tecnologias e manutenção dos cuidados da estrutura produtiva;
- Gestão efetiva de todos os processos, mantendo a rigidez dos trabalhos com foco na biosseguridade; e
- União da cadeia produtiva e dos elos envolvidos (incluindo os agentes governamentais) em torno de um objetivo comum, que beneficia o setor e o país.
“As ações ligadas a sanidade das carnes só geram impactos positivos, com ganhos para todos os elos, sejam os produtores, os fornecedores e principalmente, consumidores”, comenta o diretor de relações institucionais da ABPA.