Qual seria o destino dos resíduos orgânicos gerados diariamente pelo seu negócio? Embora a resposta mais óbvia seja o aterro sanitário, existem alternativas bem mais sustentáveis - e rentáveis - para processar os resíduos sólidos. Uma delas é o biodigestor. Trata-se de um equipamento capaz de transformar matéria orgânica em biofertilizantes e biogás.
Além de evitar a poluição do meio ambiente e reduzir a emissão do gás metano na atmosfera, o biodigestor também pode representar uma economia e tanto no uso do GLP (gás liquefeito de petróleo ou gás de cozinha). “Em vez de ir para o aterro, que não seria o destino mais correto sob o ponto de vista da sustentabilidade, o resíduo torna-se parte de uma economia circular, já que é transformado tanto em um biofertilizante natural quanto em biogás”, explica Ricardo Oliani, coordenador da área social da startup Biomovement Ambiental.
Com foco no desenvolvimento de tecnologias sustentáveis, a startup é a distribuidora exclusiva do Homebiogas no Brasil, um biodigestor de pequeno porte que pode ser utilizado tanto em residências quanto como uma alternativa viável para pequenos estabelecimentos comerciais - o equipamento custa a partir de R$ 8.900. Lançado em 2014, o biodigestor de origem israelense é 100% off-the-grid, ou seja, não utiliza eletricidade para funcionar e está presente em mais de 100 países. No Brasil desde 2018, está disponível nas versões 4 kg, que gera diariamente de duas a três horas de biogás, e 10kg, que produz até sete horas de biogás. Atualmente, existem mais de 800 unidades instaladas de norte a sul do País.
Como funciona
O sistema de funcionamento do biodigestor é muito simples. Basta despejar qualquer tipo de lixo orgânico, como restos de comida, cascas de vegetais e de frutos (deve-se evitar os cítricos, por conter óleos que podem atrapalhar o processo), além de esterco animal, dentro do equipamento. Em contato com água e bactérias anaeróbias presentes nos próprios dejetos, o equipamento vai transformar os resíduos em biogás, que ficará abrigado em um compartimento até a sua utilização. E o sistema ainda transforma cada quilo de lixo orgânico em um litro de biofertilizante líquido, que pode ser utilizado para fortalecer o solo e ajudar em plantações.
De fácil instalação, o equipamento tem um filtro que elimina odores desagradáveis. E precisa ser colocado em uma área externa. “Esse equipamento foi projetado para funcionar em áreas como o deserto de Neguev, em Israel, que chega a 45°C durante o dia. Quanto maior a incidência de sol no equipamento, mais ágil será a produção de biogás e biofertilizante”, explica o coordenador da Biomovement Ambiental. Após a primeira alimentação, o biodigestor pode demorar de 15 a 30 dias para começar a gerar biogás e biofertilizante, a depender do sol.
O biodigestor promete uma economia de dois botijões e meio por mês, o que garante o seu payback em dois a cinco anos, de acordo com o fabricante. No entanto, Oliani ressalta que o objetivo do equipamento não é substituir o GLP completamente. “O biodigestor pode ser utilizado como uma fonte de gás secundária, que pode ajudar a manter uma bancada aquecida, por exemplo”.
Sustentabilidade é a motivação
Embora não seja o suficiente para suprir as necessidades de um restaurante em horário de pico, o uso combinado com o GLP pode trazer uma economia e tanto. “Em dias de menor movimento, só o gás vindo do biodigestor já é o suficiente para a cozinhar”, afirma Prazeres Quaresma do Santos, proprietária do restaurante de comida paraense Saldosa Maloca.
Localizado em plena ilha do Combu, nas imediações de Belém (PA), o restaurante passou a utilizar o biodigestor em 2019. Atualmente, o local conta com quatro equipamentos de 10 quilos cada, que conectam fogareiros da própria marca, que Prazeres e sua equipe utilizam desde preparar arroz e aquecer a água para o café, até para fazer os molhos, como o à base de tucupi que é servido como acompanhamento dos bolinhos de pescada amarela e jambú.
Além da economia de GLP, Prazeres acredita que a sustentabilidade é a principal vantagem do biodigestor. “Estamos em uma área de proteção ambiental e, para nós, é muito importante dar um destino correto para os resíduos”, explica ela, que também utiliza o biofertilizante gerado pelo equipamento nas plantações de cacau e açaí da propriedade.
Segundo Oliani, o objetivo da startup é trazer versões maiores do biodigestor para o Brasil. O equipamento maior ainda está em fase de testes lá fora, mas, em breve, deve chegar ao país. “Nesta próxima fase, o foco serão as grandes empresas de food service. Mas, em vez de produzir gás, a ideia é o equipamento gerar energia”, promete ele.
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