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Bióticos: o sucesso dos microrganismos na saúde e no mercado

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É crescente o consumo de probióticos, prebióticos, pós-bióticos e simbióticos pelos consumidores; saiba como a indústria desenvolve essa nova tendência

Microrganismos como bactérias e fungos, também conhecidos como bióticos, desempenham um papel fundamental não apenas na saúde do intestino, mas também na manutenção da saúde global das pessoas. Esses microscópicos seres vivos, que habitam nosso corpo em uma relação complexa, têm um impacto profundo em nossa digestão, imunidade e bem-estar geral.

Com base nisso, a indústria de alimentos e ingredientes tem se debruçado sobre as habilidades dos bióticos para trazer novas soluções às pessoas, cada vez mais interessadas em bem-estar e saúde. Nesse cenário, pesquisadores, empresas e autoridades têm se relacionado para trazer novidades aos consumidores, de maneira ética e eficiente.

Com base nisso, a Food ingredient South America (FiSA) organizou o Q&A "Bióticos e saúde gastrointestinal: oportunidades e desafios”, evento que contou com a presença de especialistas da academia e da indústria para discutir a importância desses microrganismos na alimentação e o trabalho da indústria no desenvolvimento de novas soluções.

Nutricionistas e médicos estão mais atentos ao uso dos bióticos

“O Brasil lançou muitos novos produtos, mas ainda virão muitos outros. O avanço regulatório desde 2018 facilitou muito o aparecimento de novos probióticos”, disse Ary Bucione, consultor, fundador da NutriConnection e diretor da BCBioconnectionBrasil, durante o Q&A.

“No Brasil, o crescimento é grande e a gente já percebe inclusive maior aceitação, tanto de nutricionistas quanto de médicos, na receita de probióticos”, complementa o especialista.

Bióticos: o que são e como ajudam?

Francine Schutz, consultora científica especializada em probióticos da Schütz Mendes Consultoria Científica, que também participou do evento, explica que os termos probiótico, prebiótico, simbiótico e pós-biótico se confundem, mas que é fundamental entender a diferença entre eles.

“São definições muito básicas: probióticos são organismos vivos que quando consumidos em quantidades adequadas proporcionam benefícios aos pacientes”, explica.

Já os prebióticos “são substratos utilizados seletivamente por microrganismos que vão conferir benefícios aos hospedeiros. De maneira mais simples, é um alimento para as boas bactérias do nosso intestino para melhorar a saúde digestiva e a imunidade”, complementa.

Há também os alimentos que são uma mistura de probióticos e prebióticos, conhecidos como simbióticos, e que também são importantes na construção de uma saúde intestinal fortalecida.

Por fim, os pós-bióticos são uma classe que apareceu recentemente e que tem algumas características bem diferentes das demais, como explica Francine.

“São microrganismos inanimados obtidos de processos como aquecimento e fragmentação de probióticos. Eles são reconhecidos pelas células de defesa do nosso organismo”, e, por isso, importantes no aumento da imunidade.

Suplementação e a alimentação das mulheres

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Por falta de acesso a alguns nutrientes por diversos motivos, um deles, a vida corrida, a alimentação completa passa a ser um desafio no mundo contemporâneo. E isso impacta não só a saúde intestinal como o bem-estar como um todo.

“O primeiro ponto de qualquer tipo de tratamento é cuidar do seu intestino porque se você está com um problema de pele, por exemplo, você precisa fazer com que os nutrientes sejam absorvidos devidamente para que cheguem até ela”, explica Fúvia Biazotto, pesquisadora sênior da Sanavita.

Assim, boa parte dos suplementos voltados ao bom funcionamento do intestino e que utilizam bióticos são dedicados a mulheres, que historicamente sofrem mais com problemas intestinais, seja por características biológicos ou por questões sociais.

“As mulheres são umas das que mais tem problemas intestinais. Um dos motivos da constipação é por conta da inibição social, síndrome do intestino irritado”, destaca a especialista ao mencionar o distúrbio que reduz a frequência das evacuações e consistência das fezes.

Além disso, todo o ciclo de vida feminino é mais propício a intercorrências relacionados ao funcionamento deficitário do intestino. Aa gente sabe que na gestação, na menopausa e em outros momentos, a digestão às vezes não é a adequada”.

É aí que entra a suplementação. “A gente tem uma vida super agitada e muitas vezes não tem como comer fruta, o café da manhã pode ser corrido e a ingestão diária de nutrientes pode não ser a ideal. O suplemento é fundamental para obter essa quantidade diária ou para corrigir um intestino que não está funcionando corretamente”, diz Fúvia.  

Mercado: oportunidades e desafios para produzir bióticos

Diante da importância da inclusão de alguns elementos na alimentação para melhorar a saúde intestinal e, a partir daí, o funcionamento do corpo humano como um todo, os probióticos tem ganhado espaço no mercado como uma das soluções mais frequentes e eficientes.

“Em 2005, tivemos a ideia de criar um probiótico em sachê e a Anvisa disse ser impossível, até que fomos à universidade, desenvolvemos e registramos um produto. Começamos a fazer um simbiótico, um probiótico com uma cepa e mais o prebiótico e vitaminas”, conta Sergio Roberg, CEO do laboratório O Roberg, especializado em alimentos e funcionais.  

Como produzir?

probiotico.jpgRoberg avalia que a partir dali vários fabricantes foram inspirados a apostas na produção de alimentos funcionais com base em probióticos, prebióticos e simbióticos. Porém, a produção não é fácil. É preciso criar condições muito específicas para desenvolver esse tipo de alimento.

“É complicado porque você precisa ter atmosfera controlada. A gente usa gás inerte para aumentar o shelf life, por exemplo. E identificamos que quando você produz com uma umidade muito alta, o shelf life reduz bastante. Por isso reduzimos a umidade de 30% a 20%, e obtivemos melhores resultados”, detalha o executivo.

Um dos pontos de atenção, não só da Anvisa como da FDA (agência regulatória dos EUA), no que diz respeito a bióticos é em relação aos alergênicos.

“Um dos requisitos para um alimento ser considerado probiótico aqui no Brasil é o fabricante apresentar um teste livre de alergênicos, garantido que não haja nenhuma substância alergênica na formulação ou que o produto não está contaminado com alimentos potencialmente alergênicos, como ovo, crustáceo e leite”, diz Francine.

Como ganhar tração

O laboratório foi um dos primeiros a levar os simbióticos aos hospitais, mas, em alguns casos, houve bastante resistência, até que os benefícios fossem compreendidos. Para tanto, foi preciso contar com o conhecimento dos especialistas do setor.

“Inicialmente, a gente procurou os médicos dos hospitais, mas não deu certo. Aí a gente resolveu procurar os nutricionistas e, por meio desses profissionais, a gente conseguiu introduzir os produtos nos maiores hospitais do Brasil”, detalha Roberg.  

Desde 2018, o cenário de adesão a probióticos, prebióticos, pós-bióticos e simbióticos melhorou, na visão de Roberg. A ideia é que, como o novo marco regulatório em vista, haja uma nova aceleração no desenvolvimento do segmento.

“É muito ousado o que a Anvisa se propôs a fazer (com relação à regulação dos bióticos). E, a partir disso, vamos poder melhorar orientação sobre esses produtos no Brasil”, avalia.  

Regulação dos bióticos

Para Francine, são muitas as exigências da Anvisa com relação aos probióticos. “Mas tento olhar o lado bom das coisas. Estamos falando de bactérias, são boas, mas ainda são bactérias, e, por isso, é preciso ter um controle extremamente rigoroso dessa produção”, reconhece.

Ela avalia que a Anvisa tem feito um trabalho correto ao exigir maior rigor científico no desenvolvimento de produtos, o que aumenta a confiança do consumidor de que os produtos nas prateleiras realmente são capazes de protegê-los de doenças eventuais ou remediá-los no caso de síndromes e enfermidades já existentes. 

“A minha parte é de pesquisa clínica para, depois, obtenção do registro na Anvisa. Esse trabalho tem um impacto muito importante porque você passa a ter a garantia de que há pelo menos dois estudos comprovando cientificamente a eficiência e segurança desses produtos”, finaliza Francine.  

 

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