Tratada como a Black Friday do chocolate pelas grandes indústrias, a Páscoa vem recuperando o nível de consumo após a queda durante a pandemia. Em 2022, ano de início da retomada, foram vendidas 10 toneladas de ovos no Brasil, segundo levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab) em parceria com a Kantar. O número é relevante, mas ainda há muito espaço para crescer.
Nos EUA, por exemplo, a cada Páscoa, 180 milhões de ovos de chocolate são adquiridos pelos residentes em território norte-americano, o que representa muito mais que o vendido pelas maiores marcas no Brasil se unidos os números de todas elas. Isso mostra que o mercado brasileiro ainda tem muito espaço para crescer.
Neste ano, a indústria de alimentos do Brasil aposta em um crescimento no feriado se comparado com o último ano. Entre as maiores marcas, a Cacau Show projeta alta de 40% nas vendas, porcentagem correspondente a 23 milhões de ovos comercializados.
Já a Nestlé espera vender os 12 milhões de ovos já produzidos e, como resultado, registrar aumento de 10% nas vendas. A Lacta aguarda quase a mesma alta da Nestlé, atingindo entre 10% e 15% de aumento de vendas na comparação com o ano anterior.
A Americanas, varejista, mas que também tem produção própria, enfrenta problemas graves depois de descoberto um rombo de mais de R$ 40 bilhões em seu balanço, o que colocou a empresa em recuperação judicial.
Para não ficar de fora dessa grande oportunidade de aumentar as vendas, a Americanas precisou pagar seus fornecedores à vista para seguir comercializando ovos de chocolate. “O movimento não apenas salvou a Páscoa da empresa, como minimizou os impactos no mercado”, disse a Abicab em comunicado.
Uma das saídas da Americanas para atravessar a crise e ampliar vendas durante a Páscoa foi aumentar a produção própria. Ainda assim, a varejista já comprou 13 milhões de unidades que já estão disponíveis nas 1.700 lojas da varejista.
Lançamentos são a grande aposta
Várias marcas, grandes ou pequenas, apostam em lançamentos para aumentar vendas durante a data. A Abicab afirma que o número de novos produtos é o maior desde 2015. Dos 440 produtos inseridos no mercado para a Páscoa, 163 foram disponibilizados pela primeira vez ao público neste ano.
Para dar conta do recado, as empresas precisaram abrir vagas temporárias, com o objetivo de conseguir produzir a meta estipulada, o que tem aquecido também o mercado de trabalho, além do mercado de consumo.
De acordo com o levantamento feito pela KPMG em parceria com a Abicab, 7,9 mil novos postos de trabalho foram criados em decorrência da Páscoa para que as empresas atendam o aumento de demanda no período.
Adaptação do portfólio
O relatório anual Taste & Nutrition Charts, que pela primeira vez revela as tendências nutricionais dos consumidores, mostra quais as principais demandas e necessidades do público, e como a indústria de alimentos pode adaptar seus portfólios.
No levantamento, são considerados os lançamentos de produtos, declaração de ingredientes e últimas preferências do consumidor. Os números dizem respeito a toda a indústria de alimentos e inclui, portanto, o segmento de chocolates e doces.
A expectativa é que, a partir deste ano, haja uma aceleração do aumento da demanda por atrativos relacionados à sustentabilidade e cumprimento de metas nutricionais na busca por alimentos no geral, de acordo com a pesquisa. Isso também afeta a indústria de indulgentes.
“Vemos cada vez mais os consumidores em busca de ingredientes que proporcionem benefícios para sua saúde e uma alimentação sustentável”, diz Fernanda Fontolan, gerente de marketing de Taste para América Latina da Kerry, uma das líderes mundiais do setor de ingredientes, alimentos e bebidas.
Prioridades para o consumidor
O relatório aponta ainda que o sabor continua sendo o principal fator quando se trata de escolhas de alimentos e bebidas pelos consumidores. Apesar disso, ganham importância fatores como valor nutricional, apresentação, experiência, entre outros.
Os produtos sem aditivos e conservantes, e com baixo teor de gordura, por exemplo, ganham maior relevância consumidores. Opções sem gordura trans e fortificadas em vitaminas também aparecem no topo da preferência do mercado.
Produtos veganos, vegetarianos e de base vegetal aparecem como a principal tendência identificada nos últimos anos. Os itens naturais e ricos em fibras também estão em alta no mercado.
Ademais, os consumidores também buscam itens mais saudáveis, como produtos que beneficiam a saúde óssea, com adição de cálcio, ômega 3, aqueles que ajudam no controle de peso, probióticos e baixo ou sem carboidratos e sódio, segundo o Taste & Nutrition Charts.
Mudança no significado
De acordo com Juliana Corá, gerente executiva de marketing da Bauducco, a Páscoa, com o passar dos anos, perdeu parte do seu significado, e muitas pessoas a encaram hoje como um feriado como todos os outros.
No entanto, a executiva avalia que a data ainda possui um forte apelo afetivo e as empresas têm potencial para aumentar a associação da data a esse sentimento de comunhão entre pessoas, especialmente com a retomada dos encontros familiares e entre amigos no pós-pandemia.
Com o objetivo de diversificar os momentos de consumo na Páscoa e atender aos diferentes perfis de brasileiros, a Bauducco tem o intuito de aumentar sua relevância na data construindo awareness e considerando algumas estratégias específicas: o aumento da comercialização de colombas e indulgentes.
A executiva avalia que esses produtos favorecem também a continuidade do hábito de presentear durante a data. Diante disso, a expectativa da Bauducco para a Páscoa “é bastante positiva”, avalia Juliana. “Acreditamos que a data vem abrindo espaço para outros produtos.”
Ela destaca as colombas e outras linhas de produtos com chocolate, para além dos ovos, com potencial de aumento de vendas. “Por isso, nossa estratégia é abraçar essa nova forma de consumo, por meio de um portfólio completo, diferenciado e diversificado para atender a todos os tipos de consumidores”, finaliza a executiva.
Artesanais
A demanda por ovos artesanais é outra tendência observada no mercado para 2023. A Sulformas, empresa de embalagens que atende em grande escala os pequenos e médios produtores de chocolates e doces, prevê um aumento de 120% na demanda por embalagens na Páscoa deste ano, acompanhando o aumento da produção de ovos artesanais.
“Além da busca por produtos personalizados e com um custo mais acessível, os consumidores estão cada vez mais conscientes da importância de apoiar produtores locais e buscar produtos de qualidade, e os artesanais têm sido referência”, conta Anderson Oliveira, sócio-diretor da Sulformas.
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