Desde a revolução industrial, há 250 anos, as constantes descobertas do homem geram mais facilidades a cada dia. Os avanços tecnológicos nos proporcionam hoje uma realidade quase comparada aos filmes de ficção científica de 40 anos atrás. Os processos industriais estão se transformando de maneira irreversível e quem deseja se manter neste mercado precisa se adaptar à nova realidade. Linhas de produção altamente automatizadas, com cada vez menos
interferência humana, robôs que literalmente substituem o homem com produtividade incomparável, esta é a fotografia que a indústria 4.0 nos proporciona. Esta transformação, ou nova revolução industrial, cedo ou tarde alcançará todos os tipos de indústrias, sem exceções.
Se viajássemos de volta no tempo, na virada dos séculos XVIII para XIX, em meio à revolução industrial e perguntássemos aos empresários e trabalhadores daquela época se o que estavam vivendo era uma transformação sem igual para a humanidade, provavelmente nenhum dos cidadãos e cidadãs se mostraria consciente disso, ou mesmo que isso seria algo útil, a ser levado a sério e não uma mera baboseira ou filosofia de botequim. Acontece que as mudanças proporcionadas pelas recém-criadas linhas de produção, posteriormente, incrementadas pelas
máquinas a vapor transformaram de maneira sem igual as relações de trabalho e os conceitos de qualidade e produtividade.
Atualmente com a redução dos custos para automação dos processos, introduzidos, principalmente por inovações tecnológicas, está cada vez mais acessíveis a todas as empresas e pessoas a substituição de trabalhos manuais e mesmo com armazenamento físico, por atividades executadas por robôs e dados arquivados em nuvem. Quase que em um cenário cinematográfico, já é possível sair de casa e deixar um robozinho aspirando o piso ou mesmo programar para que uma assadeira misture os ingredientes e possibilite que acorde com um pão quentinho e feito em casa todos os dias pela manhã.
As linhas de produção atuais estão sendo massivamente ocupadas por dispositivos e ferramentas automatizadas, muito menos complexas que os seres humanos que até então ocupavam aquelas posições e trabalhando com uma precisão, qualidade e padronização sobre humanas. É claro que ainda precisaremos de uma pessoa ou um grupo por trás dos computadores que programam e comandam as máquinas, mesmo que estes estejam cada dia mais autônomos, o que provoca e desconforta muitos profissionais que estão com suas carreiras, em tese, maduras, pois quem não se adaptar e não estiver preparado ficará fora deste mercado 4.0.
Bastante comum em indústrias automobilísticas e nem tanto em plantas de produção de alimentos, por exemplo, a introdução de robôs e processos com a mínima interferência humana vem crescendo. Em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento é muito menos comum ter contato com processos muito automatizados, tanto pelo custo dos sistemas versus o custo da mão-de-obra, quanto pelo custo de manutenção e carência de profissionais qualificados para operar e manter os modernos equipamentos e softwares rodando. De qualquer maneira é apenas uma questão de tempo se tornar frequente em ambientes fabris uma menor quantidade de pessoas sem prejuízo à produtividade dos sites.
Especificamente na indústria de alimentos, já temos plantas altamente mecanizadas e automatizadas, como plantas de produção de queijos, em que os operadores basicamente controlam parâmetros a partir de uma sala de controle, através de computadores, e o processo ocorre sem nenhuma interferência humana, exceto nos momentos de manutenções preventivas ou corretivas. Mesmo para os reparos, já existem sistemas autônomos que só acionam um ser humano em último caso, depois de esgotadas todas as soluções programadas no sistema. Outro tema que cresce em paralelo à modernização das fábricas de processamento e/ou produção de alimentos é a qualidade assegurada, uma vez que com menor quantidade de colaboradores, há substancial redução no número de ocorrências de contaminação física, química e biológica, intencionais ou acidentais.
Mirando o Brasil como um dos países que ainda dispões de amplo espaço para crescimento e inserção de mais tecnologia nos processos industriais, um limitador que não deveria fazer parte desta equação, mas lamentavelmente faz é a infraestrutura. Ainda não temos como nos Estados Unidos, conexões à internet de altíssima velocidade em todos os cantos do país, nem mesmo temos à disposição energia elétrica de qualidade dependendo da região onde se deseja instalar ou modernizar uma planta. Isso infelizmente, em pleno 2017, ainda retarda a viabilidade de muitos projetos, pois a iniciativa privada não tem fôlego para compensar a ineficiência do poder público para insumos que deveriam ser considerados até então básicos.
Indiscutivelmente não há como frear a enxurrada de tecnologias que estão à disposição e as incontestáveis melhorias para os processos e para a qualidade dos produtos finais, sejam eles automóveis ou alimentos. Maior padronização e segurança dos alimentos tornam a automação extremamente atrativa para plantas de processamento de alimentos, ainda com muito espaço para crescimento significativo pelos próximos anos. Do ponto de vista do capital humano, é
fundamental que as pessoas se preparem para esta nova realidade, para que não figurem como meros coadjuvantes nesta nova realidade que a indústria 4.0 já demonstra que nos proporcionará.
Referências- JEREMY, Rifkin. A Terceira Revolução Industrial . M.BOOKS, 2012.
- MANTOUX, Paul. A Revolução Industrial no Século XVIII. UNESP, 2003.
- SCHWAB, Klaus. A Quarta Revolução Industrial. WORLD ECONOMIC FORUM/ EDIPRO, 2016.
Sobre o autorHenrique de Castro Neves é doutorando em ciências econômicas, General Manager da Tate & Lyle Gemacom Tech S/A.