Apesar da produção de leite no Brasil ser uma das maiores do mundo e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) exigir uma série de requisitos mínimos referentes à composição e segurança do alimento, muito pouco se fala sobre os benefícios financeiros e mercadológicos para produtores que investem na obtenção de um leite com mais qualidade.
De acordo com a professora e pesquisadora da Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho), Andrea Rossi Scalco, esse é um dos motivos pelos quais a qualidade do leite no Brasil ainda é muito inferior aos países mais desenvolvidos.
“A preocupação do laticínio é com volume, não com qualidade. Só se preocupa quando afeta a produtividade. É necessário começar com a capacitação dos produtores. É complicado falar para o produtor 'você tem que fazer tudo isso aqui'. Ele pergunta: 'quanto eu vou receber a mais por isso?'".
Em outras palavras, não adianta simplesmente exigir algumas obrigações e esperar que os produtores as cumpram sem oferecer (ou ao menos mostrar) os ganhos financeiros que vai ter com elas - afinal, produção de leite também é negócio e qualquer medida deve ser analisada desse ponto de vista.
Afinal, por que se preocupar com a salubidade do leite?
O investimento em qualidade do leite pode ser justificado e lucrativo para o produtor de duas formas: pagamento por qualidade e saúde do rebanho.
O pagamento por qualidade consiste na estratégia de alguns laticínios brasileiros de pagar mais ou menos por um determinado leite de acordo com a sua qualidade. Infelizmente essa prática ainda não é adotada por todos os laticínios e, portanto, investir na produção de qualidade com foco em receber mais pelo leite vendido não é uma realidade para muitos produtores.
No entanto, a saúde do rebanho é uma vantagem que, independente se o laticínio adota a estratégia de pagamento por qualidade ou não, todo produtor pode se beneficiar.
Isso porque:
- Vacas mais saudáveis possuem uma incidência muito menor de mastite, que é uma infecção nas glândulas mamárias do animal que pode prejudicar muito a produção e qualidade do leite, além de ser altamente contagiosa.
- Vacas mais saudáveis são mais produtivas, uma vez que vacas doentes produzem menos leite e possuem menos períodos de lactação, o que muitas vezes traz mais prejuízos do que lucros para o produtor.
Além disso, estima-se que apenas 1% do custo total de produção de leite está relacionado com a aplicação de práticas para melhoramento de sua qualidade.
Como produzir um leite de qualidade?
A qualidade do leite pode ser dividida em duas categorias: composição química e contagem microbiológica.
Enquanto a composição química se refere à porcentagem de proteínas, gorduras e outros componentes essenciais do leite (o que pode variar de acordo com a raça da vaca e época do ano), a contagem microbiológica indica o nível de higiene da produção de leite.
Quanto maior for a contagem microbiológica do leite, muitas vezes representada pela CBT (Contagem de Bactérias Totais), menor será a qualidade do leite para o consumo e/ou produção de derivados, como queijos, iogurte, manteiga etc.
Para manter a qualidade do leite, tanto no que diz respeito à composição química quanto à contagem biológica, leve sempre em consideração as seguintes práticas durante a produção do leite:
- Use um sistema de identificação para as vacas: ter todas as vacas facilmente identificadas por etiquetas nas orelhas é necessária para identificação dos animais com mastite e/ou separação das vacas em períodos de colostro.
- Maneje os animais com tranquilidade: vacas estressadas podem “esconder o leite” ou se lesionar durante o transporte. Em ambos os casos a produção e a qualidade do leite podem ser prejudicadas de forma significativa.
- Realize o pré-dipping: para evitar contaminações do leite é imprescindível higienizar todos os tetos do úbere com um pano molhado e solução desinfetante, sendo o mais utilizado a solução diluída de cloro.
- Realiza o pós-dipping: assim como o pré-dipping é importante para evitar a contaminação do leite, o pós-dipping evita a entrada de bactérias ou sujeiras pelos canais dos tetos, que ficam abertos durante alguns segundos após o fim da ordenha.
- Separe o leite das vacas contaminadas: o leite de vacas contaminadas com mastite deve ser separado e descartado. Também recomenda-se que as vacas com algum tipo de infecção sejam ordenhadas por último a fim de evitar a proliferação da doença no rebanho saudável.
- Limpe o local e os equipamentos antes e após a ordenha: o leite é um alimento altamente perecível e por isso qualquer contaminação nas paredes, tetos ou parte interna de equipamentos, por menor que seja a exposição, pode prejudicar drasticamente a sua qualidade final.
- Mantenha o leite refrigerado: imediatamente após a ordenha o leite deve ser refrigerado e mantido em 4 ºC. Caso não seja possível contar com um tanque de refrigeração na fazenda, procure sempre transportar os galões de leite em horários mais frios e nunca deixá-los exposto ao sol por longos períodos de tempo.
Lembre-se que, como qualquer outro alimento, o leite deve ser sempre obtido a manuseado da forma mais higiênica possível. Se você acha que alguém pode se beneficiar com essas informações, compartilhe o texto com os seus amigos no Facebook!