O upcycling (ou reaproveitamento, em português) é um dos pilares do movimento economia circular, que preconiza um desenvolvimento sustentável fazendo o melhor uso possível dos recursos naturais. Quando aplicados à indústria de alimentos esses conceitos podem trazer ganhos muito significativos.
De acordo com o relatório Alimentação e Economia Circular, da Ellen MacArthur Foundation, produções saudáveis, regenerativas e sem desperdício podem reduzir 4,3 bilhões de emissões de gases de efeito estufa até 2050. Esse número é comparável a tirar cerca de um bilhão de carros do mundo das ruas permanentemente.
A partir desse paradigma, os alimentos são usados de uma maneira circular: após passarem por uma primeira etapa na indústria, tornam-se subprodutos para outro processo e, posteriormente, até insumo para outra empresa.
"Existem vários aspectos que nos motivam a trabalhar com o modelo de upcycling. O mais importante se destaca nas questões ambientais e socioeconômicas, na otimização de recursos do planeta e na inclusão social. Não temos dúvida de que os resíduos hoje são tratados como lixo por falta de uma visão do todo com relação ao potencial dos constituintes botânicos, como também pela falta de um modelo de negócios, industrial e logístico, de tratamento e processamento destes materiais", disse Eduardo Aledo, sócio e gerente geral da Rubian Extratos, ao Food Connection.
Bioativos
Uma das frentes de atuação da Rubian é fazer upcyling de resíduos de cascas de jabuticaba e do bagaço do maracujá provenientes da fabricação de sucos e de polpas. As cascas de jabuticaba são ricas em antocianinas, já o bagaço do maracujá contém lipídios e fenólicos.
"Estes resíduos são tratados e processados para se obter produtos com funcionalidade bioativas em aplicações para a saúde e bem-estar. Esses serão posicionados como suplementos nutracêuticos para benefícios metabólicos como obesidade, diabetes e da microbiota, como aditivos alimentares industriais como corantes e preservantes, e para aplicações cosméticas como antienvelhecimento da pele", explicou o sócio e gerente geral.
Em 2021, quando iniciou a produção do extrato da jabuticaba, a Rubian reaproveitou três toneladas da fruta que seriam descartadas. Em 2022, a empresa incorporou novos produtos derivados do maracujá. Assim, para este ano, a companhia projeta usar de oito a dez toneladas de frutas que seriam desprezadas ou encaminhadas para usos de baixo valor agregado.
A empresa também trabalha com outros produtos destinados à alimentação animal. "Temos desenvolvimentos com resíduos do urucum e do lúpulo no pipeline de produtos. O destino deste material hoje, na sua maioria, visualiza a ração animal como gado e suinocultura", complementou Aledo sobre os esforços de sustentabilidade da Rubian.
Aledo esclareceu que em todo esse processo são seguidas as regras e requisitos regulatórios dos ingredientes como se não fossem resultantes do upcycling. "É necessário sim, para a utilização de resíduos, que tenham um tratamento e respeito a este material considerando como uma matéria-prima convencional nos aspectos de práticas de colheita, armazenamento, transporte, processamento, rastreamento, caracterização, higiene, controle microbiológicos, entre outras. Também é interessante fazer um exercício de análise de risco ao longo de toda a cadeia", destacou o executivo.
Perspectivas
Para Eduardo Aledo, a prática atual de upcycling parte de um paradigma de remediação da geração excessiva de materiais, que acarreta desperdício e poluição. No entanto, o próximo modelo em consolidação é ainda mais promissor, pois prioriza processos que desde sua concepção pense no aproveitamento dos materiais nas diversas etapas da cadeia de produção.
"Na indústria de alimentos esse potencial é enorme. Tomando como exemplo o maracujá - casca, polpa, semente, folhas, entre outros - que contém diversos ativos e nutrientes. Esses materiais poderão ter aplicações distintas para a saúde, utilizando-se tecnologias de extração e purificação nas diversas etapas como um processo de biorefinaria", afirmou o sócio e gerente geral da Rubian.
Focada na redução do desperdício de alimentos por meio do crescimento da economia de alimentos reciclados, a Upcycled Food Association (UFA) criou uma certificação mundial para alimentos reciclados. Segundo a organização sem fins lucrativos, esse é o primeiro selo para a categoria no mundo.
Q&A
Para ter um panorama completo sobre o movimento Upcycling Food no Brasil e no mundo, faça seu credenciamento gratuito na Plataforma Digital da Food Ingredients South America e participe do Q&A (question and answer) no dia 26 de maio, às 10h. Todo mês é realizada uma sessão de bate-papo e "consultoria" exclusiva com especialistas e comunidade científica do Trends to Watch.
Conheça os profissionais do setor que responderão as questões sobre upcycling na próxima sessão do Q&A:
- Omar de Faria: Bacharelado em Nutrição pela Universidade Católica de Brasília 2011, Pós-Graduado em Nutrição Clínica e em Estética pela IPGS 2013, Pós-Graduado em Nutrição Esportiva Funcional pelo Instituto VP 2015, Pós-Graduando em Fitoterapia pela Pratiensino 2021, Sócio-Proprietário da Clínica Omar de Faria, Escritor, Palestrante na área da Nutrição desde 2017, Consultor para desenvolvimento de suplementos e produtos nutricionais.
- Rafael Baches: Formado em Engenharia da Computação pela Unicamp, teve passagem pela consultoria A.T. Kearney e pela Iron House Real Estate, do Grupo Cornélio Brennand, antes de se aventurar como empreendedor em 2015. Fundador e CEO da Legurmê, empresa que se dedica à produção de molhos e condimentos orgânicos e saudáveis.
- Roberto Matsuda: Engenheiro mecânico pela Unicamp e empreendedor sonhador pela vida. Fundador da Fruta Imperfeita, um movimento para combater o desperdício de alimentos por meio da conscientização dos consumidores e da valorização do pequeno produtor.
Prepare-se para esse bate-papo lendo o White Paper completo sobre Upcycling Food disponível no FiSA BrainBOX, um espaço exclusivo para profissionais que atuam em P&D, Marketing e Regulatório. Acesse aqui e conheça todas as vantagens de fazer parte desta comunidade.
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