O aumento da adesão do brasileiro a lanches mais saudáveis e alternativas ao consumo de proteína animal desperta a atenção de exportadores do mundo todo, com destaque para os produtores de amêndoa de uma das regiões mais ricas do mundo, o estado da Califórnia, nos Estados Unidos.
A Almond Board of California (ABC) é uma associação que representa cerca de 7.600 produtores de amêndoas da Califórnia e que vem explorando possibilidades de investimento no Brasil baseada na mudança de perfil de consumo dos brasileiros, que estão mais aptos a consumir produtos saudáveis e de origem vegetal em suas refeições.
O interesse da associação americana está relacionado ao potencial que o mercado brasileiro tem para recebimento de parte da maior produção de amêndoas do mundo. O estado da Califórnia produz 80% da oferta mundial do produto e procura novos mercados para escoar a produção.
O Brasil responde por mais de um terço do mercado latino-americano e é visto pelos produtores estadunidenses como uma grande oportunidade para ampliar a venda dessa matéria prima. “Dependemos muito dos mercados no exterior e já estamos presentes na Índia, na Ásia, na Europa, Médio Oriente, mas na América Latina ainda temos dedicado recursos para desenvolvimento de mercado”, afirma o CEO da ABC, Richard Waycott.
A associação está no Brasil fazendo pesquisa de mercado tanto para oferecer o produto para o consumidor final quanto para a indústria. “No longo prazo, esse pode vir a ser um importante mercado para nós”, avalia Waycott.
Atualmente, a ABC exporta de 3 mil a 4 mil quilos de amêndoas anualmente para o Brasil, mas o objetivo da associação é ousado, multiplicar por dez esse número, batendo 40 toneladas por ano em alguns anos.
Waycott reconhece que há desafios para deixar o produto com um preço mais acessível ao consumidor brasileiro, principalmente por conta do custo do frete para um mercado de 4 mil sacas por ano. Mas o aumento da demanda pode contribuir para tornar o acesso mais fácil. “Esse ponto pode ser trabalhado para que o produto se torne mais acessível, já que o preço da amêndoa é, normalmente, muito razoável na comparação com outras oleaginosas”, completa.
Mas não é só a promessa da queda de preço que pode abrir mercado para os produtores americanos no Brasil. O CEO da ABC diz que essa expansão depende basicamente de educar o consumidor brasileiro no consumo da amêndoa. “O brasileiro conhece basicamente a castanha de caju e o amendoim, mas a amêndoa tem várias vantagens, como a crocância e o sabor. Além disso, ela tem um fator mundial de aspiração e uma percepção de valor maior aos olhos do consumidor”, explica.
Substituto do leite
Os movimentos que apontam para a possibilidade de o mercado nacional se tornar cada vez mais receptivo à amêndoa americana passam também pelas novas iniciativas relacionadas à produção de alimentos alternativos à proteína de origem animal. O leite de amêndoas é uma das opções no mercado que estão sendo vistas com bons olhos pelos consumidores que procuram essa substituição.
Hoje, o varejo que escoa a produção de amêndoas e seus extratos são basicamente de comércio de cereais, casas de produtos naturais, além de supermercados e grandes varejistas de alimentos que comercializam a amêndoa como integrante de outros produtos, além do leite.
Antes com preço muito superior ao do leite de vaca, o de amêndoas vem reduzindo a sua diferença para o tradicional. O ponto delicado é que essa diferença de preço vem caindo mais por conta do aumento do preço do leite de vaca do que por um barateamento do produto oriundo da amêndoa. O litro do leite de amêndoa pode custar hoje entre R$15 e R$20, enquanto o preço do litro do leite de vaca chegou perto dos R$ 10 em alguns casos.
Por outro lado, essa redução de diferença pode ser um primeiro passo importante para o consumidor, possibilitando um primeiro contato com alternativas ao leite de vaca, que antes pareciam muito distantes por conta da disparidade de preço. E entre as alternativas, as amêndoas têm entrado forte na produção de bebidas à base de vegetais como substituto das bebidas lácteas.
Uma das empresas que têm atuado forte no Brasil no desenvolvimento de soluções alternativas às bebidas lácteas é a Herbaltech, empresa especializada no desenvolvimento de novos ingredientes para a indústria nutricional, alimentícia, de bebidas, veterinária e cosmética. As soluções da companhia são desenvolvidas a partir de vitaminas, minerais e extratos vegetais, como o de amêndoas.
“Fabricamos hoje um leite de amêndoas que é feito por meio da turbólise”, explica Camila Garcia, farmacêutica responsável da Herbaltec, ao mencionar a técnica de extração do óleo da amêndoa. “Em seguida, a gente utiliza o spray dryer (máquina que realiza a secagem dos alimentos) para transformar o produto em um pó que poderá ser usado em bebidas e outras receitas, como bolos e pudins”, explica Garcia.
A amêndoa utilizada pela Herbaltech vem principalmente do Chile. Outro mercado bastante ativo na produção desse produto e vendas ao Brasil é o peruano. Esses são dois dos competidores que a associação de produtores californianos enfrenta para abrir espaço no mercado latino-americano e abocanhar parte do crescente mercado de snacks saudáveis e substitutos para a proteína animal na região.
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