Nos últimos anos, houve uma redução do consumo de carne bovina e outras proteínas animais, que aconteceu por diferentes motivos. Mas, do ponto de vista prático, as proteínas de origem vegetal, que procuram mimetizar a carne e outros produtos de origem animal, têm exercido um papel importante na tentativa de fazer a reposição dos níveis de proteína na dieta da população brasileira.
Isso é o que indicam os números das pesquisas do The Good Food Institute, dedicado ao estudo e desenvolvimento de novidades para o ramo da alimentação saudável. Nesse cenário, as iniciativas em plant-based (à base de planta) se destacam, como mostram os números da pesquisa, com quase metade das pessoas que reduziram seu consumo de carne dedicadas a diminuir ainda mais e, a uma boa parte delas, tendo a inserção das proteínas homólogas como substitutas.
“O que a gente percebe (nas pesquisas) é uma redução no número de consumidores de carne no Brasil. Para se ter uma ideia, em 2019, 29% dos consumidores disseram que reduziram o consumo de carne; já em 2020, esse número subiu para 50%. Em 2022, na última pesquisa realizada, esse número tinha disparado para 67%”, diz Cristiana Ambiel, gerente de Ciência e Tecnologia do The Good Food Institute, responsável pelas pesquisas mencionadas.
Cristiana e outros especialistas do setor de proteínas participaram do Q&A “Inovação em proteínas: potencial de crescimento e seus drivers de consumo”, organizado pela FiSA (Food ingredients South America) para discussão sobre o futuro das proteínas no Brasil e no mundo. A palestra está disponível para assinantes do BrianBox na Plataforma FiSA Xperience.
As pesquisas do The Good Food Institute mostram ainda que 45% dos que disseram que reduziram o consumo de carne apontaram o aumento do preço como principal problema. Outros 36% disseram ser por questão de saúde. Estes últimos são, supostamente, os mais aptos a investir em proteínas de origem vegetal.
Por isso, além desse percentual de pessoas que tem migrado para o plant-based, há ainda um potencial crescimento dessa base de novos consumidores de proteínas alternativas, segundo o The Good Food Institute.
A pesquisa aponta que 47% dos consumidores que disseram já ter reduzido de alguma maneira o consumo de carne, pretendem reduzir ainda mais ao longo de 2023. “Mesmo que tenham reduzido pelo preço da carne, têm enxergado benefícios nesse hábito e pretendem reduzir ainda mais”, afirma Cristiana.
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Evolução do plant-based
A gerente do The Good Food Institute diz que, em geral, os produtos plant-based que buscam substituir a proteína animal “vêm evoluindo muito” e, nos últimos 5 anos, mais destacadamente, “houve um crescimento muito grande de variedade de marcas, tipos de produtos, ingredientes e inovações tecnológicas”.
“A gente (do The Good Food Institute) tem investido muito em desenvolvimento de ingredientes e tecnologias para melhorar textura e sabor, por exemplo, porque a gente sabe que replicar as características de produto animal são fundamentais”, complementa Cristiana.
Apesar do desenvolvimento acelerado dos últimos anos, há ainda um enorme caminho a ser percorrido pela indústria no segmento de proteínas de origem vegetal, destaca Ary Bucione, fundador da NutriConnection, consultoria especializada no mercado de alimentação saudável.
“A quantidade de estudos sobre gorduras e açúcares é muito maior do que o que temos em relação a proteínas, por isso, a quantidade de estudos que ainda serão feitos para trazer informações é enorme. Ainda vai vir muita coisa boa para a gente entender melhor sobre esse segmento”, avalia o consultor.
Uma das empresas que tem se aplicado na apresentação de novas soluções em plant-based é a Biolinker, startup de biologia sintética, que domina tecnologias de engenharia genética para produção de proteínas.
Mona Oliveira, CEO da Biolinker, diz que as inovações não estão somente no campo da capacidade nutritiva desses novos alimentos, mas também no sabor do alimento, fundamental para que os produtos à base de plantas ganhem popularidade entre o mercado consumidor mais amplo, indo além dos consumos de nicho.
Além disso, há soluções que podem, inclusive, inserir boas quantidades de proteínas em alimentos improváveis, como doces, por exemplo.
“Tem proteína que dá o sabor de açúcar, da planta que utilizamos aqui conhecida como braseína. É uma planta que produz essa proteína que adoça, e não aumenta o índice glicêmico. Dentro da biodiversidade que temos no Brasil, a gente tem um potencial enorme para criar proteínas ou plantas modificadas e aumentar a qualidade do produto para o consumidor final”, destaca a executiva.
O vídeo deste Q&A FiSA e das edições anteriores, e seus respectivos White Papers, estão disponíveis no FiSA BrainBOX, um espaço exclusivo para profissionais que atuam em P&D, Marketing e Regulatório. Conheça todas as vantagens de fazer parte desta comunidade.
Este e outros temas relevantes para a indústria alimentícia estão no Q&A FiSA. O próximo tema é "Alimentos Funcionais e Suplementos" e o Q&A será transmitido ao vivo pela plataforma em 29 de junho. Inscreva-se gratuitamente na Jornada Fi South America e tenha acesso à Plataforma FiSA Xperience.
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