Novos desafios e novas tendências em alimentação. Estes são temas que fazem parte do dia a dia da indústria alimentícia, principalmente pela mudança do comportamento de consumidores que, além do sabor e novos ingredientes, buscam também por atitudes sustentáveis para a preservação do planeta.
Neste cenário, as Food Health Techs adquirem protagonismo e apresentam todas as características para inovar e oferecer os melhores alimentos para uma sociedade cada dia mais preocupada com sua saúde.
Com o objetivo de oferecer um panorama completo sobre a atuação das Food Health Techs no Brasil e no mundo, a Food Ingredients South America abordou o tema no Q&A, uma sessão de bate-papo e "consultoria" exclusiva com especialistas na área pela Plataforma Digital.
Confira a seguir as principais abordagens sobre as tendências das Food Health Techs abordadas no Q&A realizado na manhã desta quinta-feira, 28.
O elo entre a indústria e o consumidor final é cada vez maior
O bate-papo foi iniciado por Omar de Faria, Sócio-Proprietário da Clínica Omar de Faria e Palestrante na área da Nutrição desde 2017. Para Omar, em poucos anos (ou até meses), a sociedade necessitará de uma alimentação saudável, mas, além dos alimentos naturais, caberá à indústria fornecer alimentos industrializados com características e finalidades especificas.
“Invariavelmente, precisaremos da indústria para obter os alimentos funcionais que melhorem a qualidade de vida de acordo com a necessidade e que, muitas vezes, não são oferecidos pelos alimentos in natura”, disse.
Além do mais, Omar indica que ter um profissional para fazer o elo entre indústria e consumidor também será muito importante.
“Caberá ao nutricionista, por exemplo, prescrever alimentos que ajudem a atingir determinado objetivo, fazendo esse elo entre o alimento da indústria e a necessidade do consumidor final, estreitando a comunicação”, disse o palestrante.
Ou seja, a tríade “Indústria-profissional de saúde-consumidor” guiará as inovações que surgirão no ramo de alimentos funcionais industrializados.
Muitas inovações ainda esbarram no marco regulatório
Em seguida, quem falou foi Julia Coutinho, nutricionista especialista em vigilância sanitária e Sócia/Fundadora da Regularium.
Dentro da tríade citada por Omar de Faria, Julia Coutinho explicou que o consumidor está no centro das atenções. “O consumidor está mais exigente e demanda inovações e novidades em várias vertentes. Mas, além de pensar na sua saúde, ele é muito curioso, buscando experimentar as novidades”, disse ela.
Neste contexto, a sócia da Regularium ressaltou a importância das Food Techs que arriscam mais e estão mais conectadas com esse perfil de consumidor, oferecendo as melhores soluções.
Porém, ela explica que muitas das Food Techs ainda esbarram em regulações que travam muitas das inovações.
Essa válida discussão foi complementada por Thiago Janiques, COO da BeGreen. Ele acredita que o modelo regulatório, mesmo que seja genuíno, trava a inovação de muitas startups.
Mas, mesmo diante dessa dificuldade regulatória, Janiques explicou que as Food Techs estão buscando inovações para trazer tecnologia e qualidade ao alimento que chega à mesa do consumidor.
O consumidor está exigente, gera informação e está mais consciente
Partindo para a etapa de perguntas, foi questionado ao Omar de Faria sobre como as Tech to Table contribuem com a fabricação de alimentos mais práticos e sustentáveis.
Na resposta, o Sócio-Proprietário da Clínica Omar de Faria explicou que o consumidor está exigente, gerando demanda de consumo, com informação suficiente para “saber o que faz bem e o que faz mal”, estimulando-o a consumidor o que faz bem à sua saúde.
“Diante desse ‘novo’ consumidor, abre-se a oportunidade para que um profissional da saúde faça parte da indústria no desenvolvimento de novos produtos. Este profissional levará conceitos técnicos para a indústria, indicando que um produto X é realmente o que determinado consumidor precisa e busca”, complementou.
A redução do desperdício de alimentos e a sinergia com as tão faladas “Fazendas Urbanas” foi outro tema bastante abordado nas perguntas realizadas aos especialistas durante o Q&A da FiSA.
Com o objetivo de reduzir o desperdício, Thiago Janiques falou sobre as fazendas urbanas e suas muitas vantagens que vão conquistar um consumidor cada vez mais consciente e exigente.
“As fazendas urbanas conseguem dar proximidade da fonte produtora com o consumidor, naturalmente reduzindo o desperdício. Também oferecem um padrão de rastreabilidade bem difundido e sustentabilidade de todo o sistema de produção, com significa redução do consumo de água, via hidroponia”, esclareceu o COO da BeGreen.
Discussões regulatórias são essenciais para as Food Health Techs atuais
Dentro do bate-papo, as discussões regulatórias também tiveram grande importância. Em determinado momento, foi perguntando qual é a relação entre as Food Techs e as questões regulatórias vigentes, e o que deve ser prioridade neste cenário.
Na resposta, Maisa Tapajós, nutricionista, advogada e sócia da Regularium, ressaltou que a principal preocupação da Anvisa se relaciona ao desenvolvimento de produtos que seguem um padrão e que sejam seguros ao consumidor, principalmente quanto à utilização de uma nova tecnologia.
“As Food Techs têm o papel de informar à Anvisa sua capacidade de controlar todo o processo, com um controle de qualidade robusto e com total conhecimento técnico da tecnologia aplicada, focando totalmente na segurança do alimento”, complementou a especialista.
Ainda sobre o tema, uma discussão bastante interessante fez referência à regulação da carne cultivada. Foi perguntado: “A regulação desse tipo de carne é competência do Mapa ou da Anvisa?”.
Na resposta, Julia Coutinho foi bastante clara: “O produto carne é de escopo do Ministério da Agricultura, afinal produtos de origem animal são de competência do Mapa. No entanto, é de responsabilidade da Anvisa avaliar a nova tecnologia responsável pela produção da carne cultivada. Ou seja, acreditamos que este assunto envolverá as duas áreas”, opinou a profissional da Regularium.
Maisa Tapajós ressaltou também a importância da comunicação das características do produto via rotulagem, ou seja, a questão da alegação funcional. Segundo ela, essa questão mudou recentemente.
Ela explica que a alegação “Esse produto auxilia no funcionamento do intestino” ou qualquer outra alegação com contexto semelhante no rótulo do produto é permitida pela Anvisa com autorização prévia, mas ressalta que a avaliação desta questão mudou muito nos últimos anos.
“Antes, a empresa colocava no relatório para a Anvisa os artigos que interessavam e falavam coisas positivas sobre determinado nutriente que ela pretendia usar. Hoje, a Anvisa ensina como fazer esse relatório, pedindo uma revisão sistemática, mostrando tudo que foi encontrado na literatura sobre a alegação em questão”, diz Maisa Tapajós.
Por fim, todos os profissionais com expertise no ramo de Food Techs foram diretos em dizer que o bem-estar do consumidor é e continuará sendo o foco central das startups e dos órgãos reguladores.
Ou seja, o futuro já está acontecendo e as Food Techs representam uma tendência que chegou para ficar, porém o olhar para os hábitos do consumidor nunca sairá dos holofotes.
O Q&A completo, com muito mais informações sobre o tema, assim como o White Paper sobre as Food Health Techs, estão disponíveis na Plataforma Digital FiSA BrainBOX, um espaço exclusivo para profissionais que atuam em P&D, Marketing e Regulatório. Acesse aqui e conheça todas as vantagens de fazer parte desta comunidade.
O próximo Q&A, no dia 26 de maio, abordará o movimento Upcycling Food, que tem o objetivo de reduzir desperdícios e impactos do consumo no meio ambiente, reaproveitando ingredientes e que de outra forma não teriam ido para o consumo humano. Inscreva-se na Plataforma Digital e participe!
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