A indústria alimentícia está migrando de uma cultura voltada, principalmente, para os processados e ultraprocessados para um novo mundo, que exige alimentos saudáveis e sustentáveis para uma população cada vez mais ciente das suas necessidades.
E é de olho nesse aumento da consciência dos consumidores que a Food ingredients South America (FiSA) organizou o Q&A “Tendências - Saúde, imunidade e acesso: os principais ingredientes para a indústria de alimentos”, que reuniu especialistas e representantes do setor para debater o tema.
Os eventos digitais Q&A (question and answer) da FiSA buscam discutir inovação na indústria alimentícia. E, nesse caso, tem a missão de propor “a evolução dos alimentos, bebidas e ingredientes” para consumidores cada vez mais preocupados com sua saúde e bem-estar, ressalta a gerente de negócios da FiSA, Diane Coelho.
“Nosso objetivo é fazer parte de uma comunidade que impulsiona a mudança. Trabalhamos para contribuir na construção de um futuro alimentar sustentável e saudável em toda a América Latina”, diz a executiva.
Para 2023, a FiSA trabalha para construir uma agenda de saudabilidade e bem-estar, impulsionando o desenvolvimento e a apresentação de produtos naturais. Segundo Ana Domingues, coordenadora de conteúdo da FiSA, o debate é importante principalmente porque parte da mudança de comportamento dos próprios consumidores.
“As pessoas redefiniram suas prioridades e buscam produtos que atendam seus maiores anseios, principalmente quando a gente fala em saúde e imunidade”, diz.
Acompanhando a mudança de comportamento dos consumidores, as empresas do setor têm apostado em novos alimentos. O desenvolvimento desses produtos também abrange startups com foco nesses propósitos, “que acabam ajudando e motivando a indústria de alimentos a inovar cada dia mais”, avalia Ana Domingues.
Alimentos para “aproveitar mais”
Para Vicente Ramos, especialista da HQ Content, a preocupação com saúde e bem-estar aumentou depois da pandemia, com as pessoas intensificando a demanda por produtos que atendam essas necessidades. “Hoje, nosso objetivo de vida é nos alimentarmos da melhor forma, de maneira rápida para aproveitar mais o dia”, exalta o especialista.
E isso diz respeito não só à qualidade, mas também à praticidade desses alimentos. Ou seja, não basta oferecer nutrientes suficientes para essas novas demandas relacionadas à saúde, mas é preciso que também sejam condizentes com o dia a dia corrido das pessoas, que não têm mais tanto tempo para empregar no preparo de alimentos saudáveis.
Com base nisso, Ramos diz que os produtos que tendem a ganhar espaço no mercado são aqueles que integram a alimentação aos objetivos relacionados a longevidade e bem-estar em qualquer idade. “O consumidor vai intensificar a procura por aumento da imunidade e preservação da saúde, algo que a indústria tem tentado compreender e atender”, explica.
Quais são os alimentos desejáveis?
O sistema imune requer alguns nutrientes específicos para dar uma resposta adequada. Resposta essa que tende a não adequada diante de dietas restritivas ou desbalanceadas, típicas de quem passa muito tempo trabalhando ou sem a possibilidade de ingerir alimentos com a periodicidade e qualidade certas por qualquer outro motivo.
Além dessas questões, relacionadas a restrição de alimentos de qualidade, tem a necessidade de micronutrientes específicos que precisa ser suprida. “São os casos da vitamina C – que é uma das mais comentadas –, mas também das vitaminas A, D e E, além do zinco e do selênio, que estão mais presentes nessa resposta imune”, diz Gabriela Faria de Oliveira, nutricionista e analista científica na Pro-Diet Medical Nutrition.
Ela destaca também o papel das fibras, “reconhecidas como contribuintes para uma resposta imunológica melhor. Hoje, já se estuda muito a questão da saúde intestinal como um dos fatores que correspondem a uma melhora da resposta, e as fibras são essenciais para isso”, alerta.
Novos nutrientes
Os órgãos reguladores têm trabalhado para disciplinar o lançamento de novidades que atendem essas novas demandas sem ceifar a capacidade inventiva da indústria.
Depois do marco regulatório de 2018, foram possibilitadas novas alegações funcionais em relação a imunidade. “Isso tem sido bastante explorado pela indústria”, diz Máisa Tapajós, nutricionista e advogada, especialista em vigilância sanitária de alimentos, ingredientes e bebidas e sócia e fundadora da Regularium.
“O que observo é uma crescente preocupação da indústria em fornecer produtos mais ricos nutricionalmente e que, direta ou indiretamente, atuem na imunidade desse consumidor”, diz a executiva.
Além de suplementos formulados com vitaminas e minerais que são diretamente relacionadas a imunidade, como vitamina C, zinco, ferro em quantidade bem significativas e suficientes para exercer essa função, outras substâncias também estão sendo desenvolvidas para garantir melhor resposta imune aos consumidores.
“A gente tem também muitos nutrientes que, apesar de não ter alegação ainda aprovada, já sabemos que estão atrelados a imunidade, como a betaglucana, algumas fibras, probióticos, que atuam muito na questão da melhora da disbiose em toda microbiota, visando essa melhor imunidade, entre outros casos”, relata.
A especialista conclui dizendo que o esforço não está só no desenvolvimento de soluções inovadoras, mas na forma de comunicar isso às pessoas, em especial, no rótulo dos produtos, que, historicamente, têm problemas para serem claros sobre as possibilidades que os produtos oferecem.
“A gente vê um esforço crescente das empresas em comunicar essas qualidades através do rótulo, porque essas alegações funcionais estão em aprovação e, depois disso, precisarão estar disponíveis ao consumidor na apresentação do produto. Esse também é um desafio importante”, conclui Máisa.
O vídeo deste Q&A FiSA e das edições anteriores, e seus respectivos White Papers, estão disponíveis no FiSA BrainBOX, um espaço exclusivo para profissionais que atuam em P&D, Marketing e Regulatório. Acesse aqui e conheça todas as vantagens de fazer parte desta comunidade.
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