Sua empresa tem uma causa clara, uma bandeira ou propósito que permeia todo o negócio aos olhos do seu cliente? E a cultura interna é valorizada no ambiente de trabalho? Você trabalha ações para identificar, fortalecer e até mesmo mudar esta cultura?
Sim, até mesmo uma cafeteria com três funcionários tem uma cultura clara; você sabe qual é a sua?
Estudiosos e empreendedores bem-sucedidos explicam que dar atenção a esses pontos podem fazer toda a diferença, quando falamos na sobrevivência e perenidade dos negócios em gastronomia.
Assuma uma bandeira ou abrace uma causa para o seu negócio
“É preciso entender o carro-chefe do seu negócio e o que está ligado a uma identidade maior do seu business, ou seja, qual é a bandeira dele. Pensar que o seu cliente vai comprar seu produto apenas pelo preço e pelo sabor é um erro”, afirmou Michelle Melo, do Sebrae, em palestra na Fispal Food Service 2023. “Os clientes agora buscam uma experiência, algo que vai ter um link de afetividade com ele.”
Assim, a próxima pergunta é: o seu negócio tem uma causa, uma bandeira, algo que está intimamente ligado ao ideário do seu produto e que vai fazer pessoas saírem do outro lado da cidade, do Estado ou do país para te visitar ou comprar com você? Entre os exemplos de o que é ter uma causa ou propósito claro, Michelle citou um produtor de sanduíches que eram parecidos com os da marca de franquias americana Subway.
“O diferencial dele, que o fez conquistar mercado rapidamente em seu Estado de origem, Rondônia, era elaborar os sanduíches somente com ingredientes locais”, explicou a especialista do Sebrae. “Assim, ele assumiu a bandeira do regionalismo, o que foi imediatamente identificado e valorizado pelos clientes.” Outro exemplo que ela cita é o bar de cervejas artesanais LGBTQIAP+.
“A dona, que é representante genuína da causa, contratou funcionários todos que se enquadram no perfil LGBTQIAP+, além de vender cervejas com esse apelo para o consumidor. Os clientes, ao entrarem no bar, se identificam com essa experiência.” Mas ela dá outro conselho enfático: “Tudo o que você faz tem que ser absolutamente verdadeiro, pois ninguém engana mais ninguém.”
Mensagens personalizadas
Foi o que aconteceu com a doceira Mônica Letícia Oliveira, dona da loja de pudins Ki Pudim em Capivari (SP). Afastada há muitos anos do trabalho para criar os três filhos, Mônica decidiu se envolver com a produção da sobremesa no meio da pandemia, como um hobby até para evitar a depressão. Deu tão certo que virou negócio.
Hoje, Mônica produz por dia mais de cem unidades de pudins de 150g em 18 sabores diferentes. Os maiores, de 1,1kg, são os campeões de finais de semana. “Abrimos uma loja no centro da cidade na rua paralela à principal de Capivari”, comenta, explicando que ficou de olho em um ponto diferenciado para fazer suas vendas. Sua filha pediu demissão do emprego no qual trabalhava para ajudar a mãe no atendimento da loja. Uma produz, em casa, a outra vende, no ponto comercial.
E o que esta história tem a ver com uma bandeira no negócio? Mônica criou intuitivamente pequenos bilhetinhos que acompanham os docinhos. Foi um sucesso. “Os clientes mandam pudins para suas esposas, amigos de trabalhos e até como correio elegante, dizendo: ‘Para minha mulher que eu amo, um docinho para uma pessoa tão doce’”, afirmou. “Fazemos bilhetinhos personalizados e meus clientes dizem que o meu pudim é o melhor do mundo”, comemora, lembrando que afastou a depressão, fatura 15 mil reais por mês aproximadamente e fez diversos amigos desde que empreendeu.
A ideia de unir o doce a um estado de espírito ou intenção do cliente é também uma bandeira, pois ela já está imbuída de uma causa: adoçar a vida desses consumidores de um modo explícito, mas subliminar – o bilhetinho. É a tal “experiência do cliente”, no qual está estabelecido – como um propósito – um envolvimento afetivo com o produto e o negócio.
Cultura organizacional
Cardomoni enfatizou que o desenvolvimento de uma cultura organizacional forte pode resolver boa parte dos problemas de baixa sobrevida dos negócios de comida. “Se você conseguir fazer a gestão da cultura, seu funcionário vai entender exatamente o que você quer que ele entregue para o seu cliente”, explicou o palestrante, que é dono de três pizzarias delivery na região do ABC paulista, tem 45 funcionários e produz uma média de 6.000 pizzas por mês.
Pela Apubra, o empresário representa 500 das 70 mil pizzarias Brasil afora e suas palestras sobre gestão de negócios são muito concorridas. “De um modo geral, o empresário é bastante solitário e falta conhecimento para ele”, afirma. “Esta é a razão para 90% das falências.”
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Michelle, do Sebrae, lembra que é importante o empreendedor da área saber contratar. É preciso contratar pessoas que saibam fazer aquilo que o seu negócio necessita. Ela lembra que há hoje estabelecimentos que vivem uma crise por terem funcionários excelentes no atendimento, mas que não sabem operar os equipamentos tecnológicos que estão revolucionando a sua gestão do negócio. “O empresário precisa entender que ele deve ser um eterno educador.”
Para isso, Cardamono dá outra dica valiosa com mais uma pergunta: “Você tem um script com perguntas que você deve fazer na hora de contratar?”. Isso, diz o empresário-palestrante, faz você saber exatamente qual é o tipo de perfil e personalidade você precisa para cada uma das funções que tiver em seu negócio. “Outra recomendação que dou: demore para contratar, mas seja rápido para demitir.” Fica a dica.
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