Durante os últimos três anos, o setor de food service, onde se encontram restaurantes, lanchonetes, bares, sorveterias e estabelecimentos semelhantes, não conseguiu realizar todo o seu potencial. Os motivos são a pandemia do coronavírus e as consequentes crises social e econômica que se seguiram.
Mas, para o ano que vem, a expectativa é que esse sentimento de apreensão ceda espaço para a esperança. “Eu percebo que há um otimismo”, diz Clélia Iwaki, show director da Informa Markets.
“É sempre importante que esse tipo de pensamento guie os negócios, com todos alinhados em torno disso, para que as dificuldades sejam deixadas para trás”, completa Clélia durante a apresentação da pesquisa O Futuro do Food Service, realizada pela Fispal Food Service e Fispal Sorvetes em parceria com a Empresa Júnior Fundação Getulio Vargas (EJFGV), que contou com representantes de associações do setor.
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Fernando Blower, diretor executivo da ANR (Associação Nacional de Restaurantes), concorda que o otimismo deve ser a tônica em 2023 diante da possibilidade de não haver problemas econômicos e sociais como os que atingiram o Brasil e o mundo nos últimos anos. Mas ele menciona a necessidade de haver um “otimismo com cautela”.
Diante de um cenário mais favorável, alguns problemas ainda precisarão ser atenuados, como inflação e endividamento das empresas e dos consumidores. “Ainda há muita instabilidade com a inflação, e as empresas estão endividadas, assim como boa parte dos consumidores, especialmente os das classes C e D”, ressalta Blower.
O representante da ANR diz que, com a renda dessas camadas mais numerosas da população comprometida com o pagamento de dívidas, há uma redução de consumo. E, ao mesmo tempo, o setor de alimentação e serviços relacionados precisa absorver parte da inflação porque subir os preços vai afastar o consumidor que ainda se mantém ativo. “Isso vai comendo margem. É preciso reverter isso para que as empresas voltem a lucrar”, alerta.
O lado positivo é que algumas pesquisas realizadas pela ANR entre seus associados apontam que muitas empresas estão conseguindo equilibrar as ações entre absorver parte do aumento de custo para manter a clientela e lucrar, algo que deve melhorar ainda mais em 2023.
“Nossos parceiros estimam para o setor um faturamento de R$ 300 bilhões no ano que vem. Isso já é um crescimento expressivo em relação a 2022, o que nos levaria a um patamar anterior à pandemia, ainda que tenha que descontar a inflação do período”, explica Blower.
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Para José Eduardo Camargo, diretor de Conteúdo e Inteligência da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), 2023 já começou com a Copa do Mundo antecipando algum movimento no setor de food service. “A Copa do Mundo joga a nosso favor ao se juntar às festas tradicionais de final de ano, que são sempre muito aguardadas pelo setor para que as empresas entrem bem no ano seguinte”, diz o executivo.
Expansão do mercado
O otimismo com relação a 2023 tem se mostrado nos números, segundo Camargo. Quase metade dos estabelecimentos associados da Abrasel esperam contratar até o final do ano. “Os bares e restaurantes estão repondo o que perderam na pandemia, e isso é ótimo porque está gerando emprego”, diz.
Ele ressalta que já se configura um cenário de expansão do mercado, com 9% dos associados dizendo que as contratações têm em vista a abertura de novas filiais e 13% afirmando que os novos funcionários trabalharão em prol do lançamento de produtos e serviços. A expansão da atuação via delivery está entre os principais impulsionadores de investimentos.
A pesquisa O Futuro do Food Service 2022 aponta que 61% dos consumidores entrevistados seguem utilizando o serviço de delivery pelo menos duas vezes por semana, mesmo com o arrefecimento da pandemia e a reabertura dos estabelecimentos. O serviço de entrega atrai o consumidor principalmente, segundo a pesquisa, pela sua praticidade, preço e comodidade (de poder comer sem sair de casa ou do trabalho).
Para entrar no mundo das entregas, algum investimento é necessário, principalmente se a ideia for aderir a iFood, Rappi e semelhantes, que cobram taxas. Mas a situação para 2023 deve ser mais convidativa para que os estabelecimentos invistam nessas e outras novidades, como as crescentes dark kitchens.
“Saímos de uma situação de muita dificuldade, sem faturamento, realizando prejuízos, e passando para um cenário de bastante melhora em 2023”, avalia Camargo. “A situação é de otimismo, e está refletida nos números das pesquisas e na ambição de crescimento de algumas empresas do mercado”, completa.
Voz ativa na construção de políticas
Martin Eckhardt, empresário do ramo de sorvetes e presidente da Abrasorvete (Associação Brasileira do Sorvete e Outros Gelados Comestíveis), diz que o setor passou por muitas adversidades ao longo dos últimos três anos, mas que o cenário agora é de avanço. “Esperamos olhar por cima disso tudo em 2023, quando devemos ter um ano melhor”.
Para o executivo, 2022 foi um ano de aprendizado que deu ao setor de food service, incluindo as sorveterias e estabelecimentos semelhantes, amadurecimento. E, em 2023, para além das questões operacionais, as empresas precisarão avançar também na articulação com autoridades do setor público, para que o impacto da tributação sobre seus resultados são seja tão deletério quando o visto atualmente, segundo Eckhardt.
“No nosso setor, de sorvetes, não tinha, até 2020, alguém para defender os empreendedores, que até pouco tempo eram verdadeiros sacos de pancada no que diz respeito a assuntos tributários e regulatórios, sempre excluídos das decisões, mas isso está mudando. A gente está articulando soluções junto à vigilância sanitária, ao Ministério da Economia e outras esferas do governo federal”, afirma.
Uma das iniciativas a serem aceleradas no ano que vem é a aprovação de um projeto de lei, em tramitação na Câmara, que prevê retirada do IPI, que antes tinha incidência de 5%, e que caiu para 3,25%. A ideia é reduzir ainda mais a incidência de impostos sobre itens que compõem os sorvetes e gelados comestíveis para ampliar o acesso da população a esses itens.
“O sorvete é muito caro e por isso que ele não tem o consumo que deveria ter, isso porque 35% em média do preço final do produto é imposto. “Se conseguimos melhor a carga tributária, será um grande avanço, com o Brasil podendo ao menos igualar países em desenvolvimento, como Chile e Argentina, que tem consumo anual de sorvete de 12 litros por pessoa. O Brasil, um país tropical, ainda não chegou aos sete litros, mesmo tendo condições de produzir os melhores sorvetes do mundo”, ressalta.
Nos próximos 20 anos, a perspectiva da Abrasorvete é que o consumo de sorvetes e semelhantes aumente 50%. As iniciativas em 2023 serão, portanto, o pontapé inicial de um projeto ambicioso, e de longo prazo.
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