Consumir alimentos que estejam em condições sempre adequadas é uma preocupação constante de consumidores. Neste contexto, as embalagens têm papel importante. Sempre que vamos ao supermercado, buscamos embalagens íntegras, onde o alimento deve apresentar boa aparência e com data de validade ainda dentro do prazo.
Porém, por muitas vezes, mesmo estando dentro do prazo de validade, o alimento pode estar estragado. Assim, o consumidor nunca sabe com exatidão se ele terá ou não segurança ao consumir o produto.
E se a embalagem “falasse” que o produto está apto para consumo ou não? Parece-nos estranho “esperar uma embalagem falar” não é? Mas, e se ela mostrar mudando de cor ou tendo uma etiqueta que muda de cor? Bom, essa possibilidade já existe!
Tal tecnologia tem se tornando uma realidade cada vez mais presente nas embalagens de alimentos. É o que chamamos de Embalagens Interativas ou Embalagens Inteligentes.
Para entendermos o conceito por trás desta novidade, conversamos com Márcia Pires, pesquisadora do Centro de Tecnologia e Inovação da Braskem no Brasil. Márcia nos conta mais sobre essa tecnologia que promete revolucionar o mercado de embalagens de perecíveis.
O que são Embalagens Interativas?
Basicamente, as embalagens interativas representam novas tecnologias que permitirão maior comunicação entre as embalagens e o consumidor. Para isso, se valem de indicadores químicos específicos que irão sinalizar o estado de conservação do conteúdo inserido nela, emitindo um alerta visual externo para o consumidor.
Com este aviso, a embalagem mudará de cor, mostrando ao consumidor que o produto nela inserido está impróprio para o consumo. Marcia explica que as embalagens interativas poderão ser utilizadas em diversos produtos perecíveis, inclusive nas proteínas animais.
A pesquisadora conta que tais tecnologias vêm sendo desenvolvidas pela Braskem em parceria com a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). “A Braskem iniciou a pesquisa sobre embalagens inteligentes em 2013, concluiu a prova de conceito em 2015 e produziu os primeiros protótipos em 2016".
Marcia diz ainda que estudos também foram conduzidos com a universidade norte-americana de Clemson, na Carolina do Sul.
Entendendo a tecnologia das Embalagens Interativas
Nesta tecnologia, para que a embalagem possa mostrar ao consumidor que o alimento está seguro (ou não) para consumo, são adicionadas à resina termoplástica (comumente utilizadas nas embalagens tradicionais), substâncias químicas que terão capacidade de reação a indicadores específicos.
Dessa forma, caso o produto sofra qualquer modificação na sua integridade, a embalagem irá modificar sua coloração, sinalizando para o consumidor que o alimento sofreu alteração e está impróprio para o consumo.
Esta ideia é melhor explicada por Marcia: “Com o passar do tempo alguns alimentos perdem a sua qualidade normal, liberando naturalmente alguns compostos químicos. Estes compostos, por sua vez, são detectados por um polímero inteligente que será responsável por realizar a mudança de cor na embalagem”.
Um exemplo neste sentido relaciona-se ao pH das proteínas animais. Estudos indicam que o aumento do pH (aumento da acidez) é devido a liberação de aminas voláteis, responsáveis pelo cheiro de podre e deterioração das carnes. Dessa forma, embalagens indicadoras de alteração do pH serão importantes para mostrar que as carnes já estão impróprias para o consumo.
Todo alimento pode ser colocado em embalagens inteligentes
As embalagens Interativas são indicadas para todo tipo de alimento perecível. No entanto, o desenvolvimento destas embalagens precisa ser customizado para cada segmento e aplicação.
“A tecnologia deve ser otimizada para cada aplicação visto que cada alimento possui uma composição diferente, o que gera a necessidade de detectar/sinalizar diferentes gatilhos”, comenta a pesquisadora da Braskem.
Ainda segundo Marcia, a tecnologia vem sendo desenvolvida com o objetivo de ser aplicada a todos os tipos de embalagem, seja ela rígida ou flexível.
A evolução das embalagens interativas parece estar só no começo. Tudo indica que num futuro próximo essas embalagens poderão ser dotadas de indicadores de diversos tipos, como a capacidade da maturação de uma carne, além de sistemas de alívio de pressão do vapor para uso em micro-ondas ou de liberação de aroma.