Ao subir a baliza, olhar a piscina e preparar o salto, Michael Phelps já sabe o que esperar: a medalha de ouro. O mesmo ocorre com Rafael Nadal ao receber um saque ou preparar um forehand: o troféu será dele. A situação não é muito diferente na mente de Usain Bolt ao medir a pista e disparar feito um raio: ele vencerá. Mas, embora cada um desses atletas seja de modalidades diferentes, e tenha especificidades físicas e técnicas próprias, há algo que os une: a intensa preparação e o cuidado especial com a alimentação.
Por trás das mais de 20 medalhas de ouro olímpicas, Phelps já revelou haver um detalhe. Por dia, o multicampeão consome mais de inacreditáveis 10 mil calorias. Nadal, por sua vez, no intervalo dos games, consome um gel repleto de suplementos. E algumas seleções chegam a colocar uma “fita” amarrada nos braços dos atletas, para medir que nutrientes são mais depreendidos – assim, podem preparar um isotônico ideal para cada jogador. Não é exagero dizer, portanto, que a tecnologia e a inovação em alimentos se tornaram algo tão efetivo como o treinamento ou o próprio talento.
“Elas (a tecnologia e a inovação) são responsáveis por fornecer ao atleta o equilíbrio das necessidades energéticas, oferecer os nutrientes básicos para a modalidade esportiva praticada, atuar com recursos por meio de alimentos e suplementos que possibilitem uma recuperação rápida e adequada, trabalhar com uma dieta que reduza a ação dos radicais livres, construir planos que evitem situações desagradáveis ao atleta com perda de massa magra, hipoglicemia e fadiga, câimbra, entre outros”, enumera Gustavo Negrini, diretor do Meeting Brasileiro de Nutrição Esportiva.
A tecnologia do alimento está cada vez mais presente na vida de um atleta de alto rendimento, avalia Andrea Zaccaro de Barros, da Unifesp
A tecnologia do alimento está cada vez mais presente na vida de um atleta de alto rendimento, concorda Andrea Zaccaro de Barros, especialista em fisiologia do exercício da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo) e presidente da ABNE (Associação Brasileira de Nutrição Esportiva). “Podemos trazer à tona bebidas glicohidroelerolíticas, géis de carboidrato, suplementos proteicos e ergogênicos em concentração adequada, de fácil manejo e, portanto, muito úteis para as necessidades nutricionais dos mais diversos tipos de atletas.”
Para a presidente da ABNE, uma prática atual é focar a necessidade de cada atleta – como a “fita” utilizada por alguns times. “Não existe uma regra ou uma receita de bolo. Na nutrição esportiva, respeita-se muito a individualidade”, pondera. “Algumas empresas estão desenvolvendo equipamentos que conseguem verificar, em tempo real, as necessidades e o consumo nutricional do atleta, justamente para se propor intervenções adequadas, com menor chance de erro, minimizando o risco de gerar desconforto gástrico ou qualquer outro fator que possa prejudicar a performance.”
Embora o desempenho de parte dos atletas nacionais tenha sido aquém das expectativas na Olimpíada, esses resultados certamente não se devem à defasagem da tecnologia de alimentos, segundo opina Negrini, diretor do Meeting. “Em termos de produtos, nós temos ótimos pesquisadores.” Ele explica que o maior problema em inovação ocorre na própria legislação brasileira. “A FDA americana, que é a nossa Anvisa, olha as diferenças. Lá você pode criar um chocolate com probióticos, aqui você fica muito limitado. As novidades que têm lá demoram muito para serem lançadas aqui no Brasil, não pelas empresas, mas sim pelo sistema”, lamenta.
Zaccaro também garante que o Brasil é um país “extremamente atual no que diz respeito à sabedoria e à aplicação de estratégias nutricionais para o desempenho esportivo”. Para ela, contudo, o maior problema está na dificuldade de reconhecer o óbvio: que a inovação em alimentos pode ser determinante, por exemplo, para um atleta obter uma medalha olímpica. “Por conta de certos pré-conceitos impostos, problemas financeiros ou, simplesmente, devido ao desconhecimento, algumas modalidades esportivas simplesmente não possuem este profissional (preocupado com a nutrição esportiva). Assim, muitas vezes, implica na ausência de um dos principais fatores capazes de melhorar a capacidade do atleta.”