No livro Empresas Humanizadas, seus autores sinalizam que as empresas devem atentar para a tendência de reforço do senso de propósito organizacional e da humanização das relações com os consumidores para manterem a competitividade em seus mercados de atuação.
Num cenário de alta complexidade, em que o consumidor, o investidor e os stakeholders em geral requerem atenção especial à agenda ASG (Ambiental, Social e Governança), às tecnologias como as da transformação digital, como fatores de aumento de produtividade e qualidade, além dos métodos ágeis para gerarem inovações para reforçarem a posição como maiores criadores de valor no mundo.
O lucro, nesse ambiente, passa a ser uma consequência da gestão adequada dos recursos materiais e das pessoas, vistas como fontes para a geração de riquezas, atendendo aos clientes com produtos e com uma experiência diferenciada, gerando empatia organizacional e a fidelização.
Nesse contexto, os profissionais também devem apresentar novas habilidades (skills), tanto em termos técnicos ao interagirem de forma natural com as novas tecnologias e com a inovação, quanto suas competências (soft skills) para relacionamento e emocionais no geral.
Tecnicamente, os colaboradores de uma organização devem ter a capacidade de priorizar e tratar os dados, com o intuito de gerar informação para a formação de um conhecimento, quanto deterem o conhecimento do negócio para que sua análise possa gerar valor para a empresa e, num nível mais holístico, alinhe às entregas aos propósitos da empresa e que são valorizados pelos consumidores.
A interação com profissionais C-level (diretores e presidentes) de empresas de diversos setores do mercado, tanto de serviços quanto de indústrias, de multinacionais a startups, trouxe em resumo que os estudantes médios hoje saem das Universidades com pouca leitura, aqui falando inclusive da própria literatura, o que os limita em termos de articulações e defesa de argumentos.
Há, ainda, uma carência de visão sistêmica e de processos, que cerceia sua capacidade de tomada de decisões, além da falta de iniciativa, que o torna passivo num mundo que requer empatia e inovação. Além dos soft skills, foi apontada ainda a programação como uma técnica desejável em todos os profissionais, independentemente de sua área de formação, visto que no mundo atual não há dificuldades na obtenção dos dados, mas sim da sua correta análise para que se obtenha melhorias na prestação da organização no sentido de atendimento aos propósitos estatutários.
Logicamente que esse é um retrato caricato baseado na percepção de profissionais e no desempenho médio dos estudantes e recém-formados no mercado, mas sinaliza um caminho para o desenvolvimento de novas alternativas tanto de formação nos bancos acadêmicos, quanto nas próprias empresas, que devem despertar a paixão de seus profissionais no sentido de alinhamento dos propósitos.
Esse sentimento desenvolverá o senso de pertencimento com assimilação da cultura organizacional como sua, e o colocará em condições de entender suas oportunidades de desenvolvimento e a consequente busca pelo aprendizado contínuo, num mundo em constante transformação.
Voltando à formação dos futuros profissionais, o aprendizado multidisciplinar e plataformas híbridas, contando com interações presenciais e online, precisa ser repensado de forma a preparar efetivamente o aluno para a realidade das empresas, quer seja com projetos executados em conjunto, quer seja com desafios reais como os hackatons promovidos por instituições de ensino em parceria com as organizações.
A pesquisa também aponta para uma necessidade de readequação da grade curricular fortalecendo o desenvolvimento de habilidades e contemplando efetivamente a interação com as novas tecnologias, oferecendo ao estudante a motivação e a segurança para atuar na vida profissional como uma extensão do campus escolar.
Retornando ao início, quando a empresa cria uma energia organizacional positiva, ligando emocionalmente e intelectualmente as pessoas a um propósito comum, é bem possível a obtenção de resultados significativos.
A provocação do raciocínio produzido é desenvolver estudantes e colaboradores motivados, que se sintam parte do processo de criação tanto das organizações quanto das Universidade e que tenham seus propósitos de vida respeitados e incentivados nos mundos acadêmico e profissional.
*Alaercio Nicoletti Junior é Gerente de Sustentabilidade do Grupo Petrópolis, professor da Escola de Engenharia da Universidade Presbiteriana Mackenzie e coordenador do curso de pós-graduação em Engenharia de Sustentabilidade no Mackenzie.