Garantir um padrão de qualidade nos produtos alimentícios é um objetivo do governo, por isso, são implementados e constantemente revistos padrões e certificados para que o consumidor receba em sua casa produtos nutritivos.
Além disso, a busca por alimentação saudável e de alta qualidade por parte da população aumenta a demanda e a importância de prestar atenção em um ponto tão importante da cadeia de produção.
"No caso das políticas relacionadas à área de saúde e nutrição, devem ser levadas em conta as tendências globais na área de alimentação, mas com a adoção de ações que reflitam a realidade e os problemas de sua população, incluindo aqueles de ordem econômica", esclarece Kathia F. Schmider, Nutricionista, especialista em Nutrição em Saúde Pública e coordenadora técnica da ABIAD.
Competitividade e adequação
A reformulação de produtos alimentícios para que as exigências dos consumidores e a legislação sejam cumpridas se faz ainda maior para garantir a competitividade no mercado.
"Esse mesmo contexto se aplica ao setor produtivo e, apesar da inovação e reformulação de produtos alimentícios serem fatores primordiais para que as empresas mantenham sua produtividade e permaneçam competitivas, o desenvolvimento de novas tecnologias de produção, por si só, não é suficiente, frente às necessidades de seus consumidores, cada vez mais informados e exigentes em relação aos produtos que consomem", afirma Kathia.
A especialista ressalta a importância de estratégias voltadas a educação alimentar e nutricional, como "ações visando a redução das taxas de sobrepeso e obesidade que podem ser implementadas via controle e regulação dos alimentos, como a norma de rotulagem nutricional, e, também, através dos acordos de cooperação entre o governo e o setor produtivo, que vêm demonstrando resultados bastante positivos".
Desafios enfrentados na reformulação de produtos alimentícios
Prestar atenção à qualidade nutricional dos alimentos é uma forte tendência de consumo. E, enquanto não cumprir com esse tipo de exigência pode levar a empresa à diminuição do faturamento, as novas tecnologias têm tornado a reformulação de produtos alimentícios cada vez mais simples de ser realizada.
No entanto, isso não significa que a indústria não precise superar mais nenhum obstáculo, ou que estejamos próximos de alcançar a excelência nesse sentido.
Os estudos da série ITAL Brasil Trends 2020 destacam as tendências de consumo que têm estimulado a reformulação de produtos alimentícios nas indústrias para a melhora do perfil nutricional e para redução ou substituição de açúcares, sódio e gorduras nos itens.
"Atualmente, existem diversas soluções tecnológicas para a reformulação dos produtos alimentícios, mas há desafios a serem superados, como limitações técnicas para a redução ou eliminação de ingredientes em determinadas categorias de produtos, de modo que possam atender às normas mais rígidas que têm sido apresentadas pelas agências regulatórias", esclarece Raul Amaral, pesquisador do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL).
Para o especialista, o principal desafio consiste em conseguir tecnologias de ingredientes e processos capazes de promover a reformulação de produtos alimentícios, mantendo as mesmas características de qualidade e preço da sua composição de origem, de modo que não seja percebido pelo consumidor como um substituto mais caro e de qualidade inferior - o que poderia inviabilizar a comercialização no mercado.
Relação de confiança com os consumidores
Vale ressaltar que o foco na qualidade nutricional dos alimentos também é fundamental para construir uma relação de confiança com os consumidores, atitude cada vez mais necessária em um mercado tão competitivo.
Para isso, além de manter a transparência nos rótulos com informações claras a respeito dos valores nutricionais dos produtos, é preciso trabalhar de perto todas as etapas da cadeia de produção.
Selecionar fornecedores que prezem pela qualidade dos alimentos e pela sustentabilidade durante o processo são algumas das atitudes que fazem enorme diferença nesse sentido.
Novos valores demandam experiências diferentes
É importante frisar que o acesso à tecnologia e informação está mudando consideravelmente a maneira como os alimentos são consumidos - e esse novo cenário também vale para os produtos alimentícios.
Atualmente, o consumidor busca por experiências de alta qualidade e por uma visão integrada do que é se alimentar bem. Por isso, é cada vez mais valorizada a transparência na comunicação e na transmissão dos valores nutricionais dos alimentos.
Outro ponto importante, aqui, é a autenticidade dos produtos. Marcas que trazem valores e propostas que se encaixam com o que é buscado pelos consumidores criam conexões muito maiores e mais profundas.
Os resultados de chegar a esse patamar são altamente benéficos, como uma rede de clientes engajada e fiel, além da possibilidade de incrementar a margem de lucro. No entanto, para conquistar essa posição, é preciso estar atento aos demais elos da cadeia de produção e garantir com que todas as etapas estejam de acordo com os valores da marca.
Cada cultura tem um paladar diferente
Apesar de a inovação ser primordial, não podemos deixar de considerar, também, as particularidades do consumidor brasileiro. E se tem uma coisa que nós gostamos é do sabor mais adocicado.
"Segundo dados da POF 2008/2009, no Brasil a maior contribuição do açúcar vem pela adição feita pelo consumidor no preparo dos alimentos em casa. Diante desse fato, pode-se inferir que a diminuição desse ingrediente não poderá se limitar às ações de redução no alimento industrializado", esclarece Kathia.
A especialista acredita que o consumidor não abrirá mão do prazer na hora de se alimentar, e à indústria caberá a mínima alteração das características sensoriais do produto, ou seja, a utilização de ingredientes ou aditivos já existentes ou mediante o desenvolvimento de novos substitutos.
"O governo e a indústria terão situações a serem trabalhadas diante do conflito entre sabor/prazer e consumo excessivo. O sucesso dessas ações dependerá de uma mudança gradual e ações de educação", complementa a nutricionista.
A reformulação de produtos alimentícios não é uma tarefa fácil. Afinal, é preciso conciliar uma série de estratégias, se adequar à legislação e ainda ser autêntico dentro do que é considerado como saboroso pelo brasileiro. No entanto, deixar de acompanhar os movimentos do mercado, pode ser fatal para a sua empresa.