Nos últimos anos, o Brasil vem se consolidando como um dos maiores exportadores de proteína animal do mundo. E dentre os maiores parceiros comerciais da nossa carne, os países muçulmanos ganham papel de destaque. Estatísticas recentes indicam que aproximadamente 30% das exportações de frango e 40% das exportações de carne bovina têm como destino os países muçulmanos. Lembrando que a carne suína não entra nesta estatística, visto que o consumo de suínos é proibido pelo Islamismo.
Para atingir este potencial mercado (cerca de 1,8 bilhão de pessoas), empresas frigoríficas e as indústrias da carne do Brasil, precisam atender aos requisitos exigidos pelas normas islâmicas, é o que chamamos de certificação Halal.
Essa certificação será a prova de que os frigoríficos se adequaram a todos os pré-requisitos exigidos para que possam exportar para o “mercado halal”. Conversamos com Dib Ahmad El Tarrass, gestor de desenvolvimento do Halal Industrial da FAMBRAS Halal (Federação das Associações Muçulmanas do Brasil), que nos conta como funciona este processo de certificação.
O que é o conceito Halal?
No islamismo, Halal refere-se ao que foi permitido e ordenado por Deus no Alcorão Sagrado aos muçulmanos e toda humanidade. Quando mencionamos a alimentação, especificamente, consideramos os alimentos que são saudáveis e, portanto não foram proibidos por Deus para a alimentação humana.
O conceito Halal significa “lícito”, que também pode ser traduzido como permitido. Erroneamente, muitas pessoas ainda acreditam que o conceito aplica-se somente à forma de abate do animal e ao ritual que engloba esse momento. El Tarrass explica que Halal é muito mais que isso:
“Engana-se quem acredita que o conceito limita-se à degola de um animal e ao ritual utilizado no momento. Halal trata-se de um padrão ético e moral de ações lícitas no ambiente social, na conduta, na justiça, nas vestimentas, nas finanças e na alimentação”. Segundo os preceitos do Halal, observa-se que esse é um sistema baseado em princípios e valores que trazem benefícios para toda a humanidade.
Primeiros passos para obter a certificação Halal
A certificação é um documento de garantia emitido por uma instituição certificadora Halal, reconhecida por países islâmicos, que irá atestar que a empresa, processo e produtos, seguem os requisitos legais e critérios determinados pela jurisprudência islâmica (Sharia). Todo o processo de certificação Halal segue um fluxograma de ações e procedimentos.
El Tarrass explica que, inicialmente, a empresa que busca certificação faz uma proposta para a certificadora e encaminha a documentação. Procede-se com a avaliação dos documentos das matérias primas e insumos que compõem o produto que será certificado.
Em seguida, agenda-se uma auditoria documental e técnica in loco para verificação do fluxograma, confirmação de fornecedores e cumprimento dos procedimentos necessários para a certificação Halal. O gestor de desenvolvimento da FAMBRAS indica ainda que algumas análises complementares podem ser solicitadas, tudo de acordo com os riscos identificados em auditoria e na avaliação documental. Após resultados positivos em todas estas etapas emite-se o certificado Halal.
Quero certificar minha empresa frigorífica. Como proceder?
Você tem uma empresa frigorífica e pretende obter a certificação para exportar aos países árabes? Veja como você deve proceder para solicitar a certificação Halal, segundo explicações de Dib Ahmad El Tarrass.
“Primeiramente você deve entrar em contato com uma certificadora (como a FAMBRAS) e informar qual a abrangência de escopo dos produtos que tem intenção de certificar. Os auditores vão posicionar se aqueles produtos são passíveis de certificação e, então, seguem as etapas de avaliação documental, auditoria, análises, finalizando na emissão do certificado Halal”.
El Tarrass ressalta ainda que a habilitação Halal das plantas tem validade de três anos, no entanto o processo de auditoria ocorre de maneira anual. “As auditorias anuais garantem que os produtos e processos da empresa sempre atendam os requisitos Halal e continuem certificados”, explica.
Por fim, vale lembrar que qualquer empresa pode manifestar seu interesse de certificar-se, entretanto, no caso de frigoríficos, por exemplo, é imprescindível que não haja abate de porcos ou javalis no mesmo ambiente e ainda que haja um ou mais sangradores e supervisores na unidade, que serão os responsáveis por executar e garantir o cumprimento das regras islâmicas de abate.
Países muçulmanos apresentam alto potencial para exportação da carne brasileira e a certificação Halal é o primeiro passo para entrar neste mercado. Portanto, a certificação é fundamental. Aproveite para compartilhar este conteúdo com seus contatos!