A mudança no comportamento alimentar da população mundial está transformando o modelo de negócios de grandes redes do varejo e também das empresas que atuam no segmento de food service. A revolução que começou a tomar conta das prateleiras de grandes supermercados, antes dominadas absolutamente por carnes de origem animal, abriu espaço para o surgimento de uma diversidade de proteínas que já chegam ao food service. Mas se enganam aqueles que imaginam produtos sem nenhuma forma, textura e sabor. Atualmente, é possível afirmar que as opções superam as expectativas no comparativo com as já conhecidas carnes e produtos embutidos de origem animal.
O movimento ganhou tração nos últimos dois anos, sobretudo após o anúncio do lançamento do Impossible Burger, em 2016. A startup Impossible Foods, que é dona do referido hambúrguer plant based, foi fundada em 2009 e recebeu investimentos de empresas como Google para desenvolver literalmente uma ‘carne falsa’. A tecnologia desenvolvida para o produto, que é 100% vegetal, permite que o consumidor tenha a impressão de estar consumindo um hambúrguer de origem animal – reproduzindo até mesmo a suculência e textura. O produto é considerado referência no mercado vegano e atende mais de cinco mil estabelecimentos espalhados pelos Estados Unidos, Hong Kong e Macau.
Outro exemplo de empresa que tem ganhado espaço no mercado é a Beyond Meat. O modelo de negócio é semelhante ao da Impossible Foods, com grandes investidores como a empresa processadora de carnes Tyson Foods (que vendeu sua parte no negócio, no final de abril, para desenvolver o próprio hambúrguer), o empresário Bill Gates e o ator Leonardo DiCaprio. Porém, além do hambúrguer, a empresa oferece uma linha completa de produtos que imitam carne de frango e produtos embutidos como salsicha – usando ervilha e óleo de coco como base de suas fórmulas. Recentemente, inclusive, a empresa elevou as expectativas de oferta inicial de ações para abertura de capital no mercado financeiro para mais de US$ 1,2 bilhão.
No varejo, as vendas seguem em ritmo acelerado de crescimento. A Beyond Sausage, linha de salsichas da Beyond Meat, se tornou a primeira salsicha a base de vegetais a ser vendida em espaços destinados às carnes tradicionais, no mercado americano. O produto pode ser encontrado em mais de quatro mil mercados e mercearias espalhados pelos Estados Unidos. Restaurantes e estabelecimentos comerciais tradicionais no país como DogHaus, Bareburger, Yankee Stadium, Schaller’s Stube, Rip’s Malt Shop, Wurstküche, Rosamunde Sausage Grill, Next Level Burger, The Moonlighter, State Street Brats e Lord of the Fries também já incluíram os produtos nos pratos servidos aos clientes. De acordo com o The Good Food Intitute, o mercado de proteínas a base de vegetais movimenta US$ 3,7 bilhões anualmente nos Estados Unidos, um crescimento de 23% no último ano.
Preocupadas com o novo perfil dos consumidores, grandes redes de fast food e hamburguerias passaram a correr atrás do prejuízo para colocar esse tipo de produto em seus cardápios. E foi literalmente o prejuízo que motivou a mudança. A Red Robin, tradicional rede de hamburguerias gourmet americana, registrou queda de 4,5% nas vendas e de 4,4% no número de clientes durante o quarto trimestre de 2018. O lucro total, por sua vez, recuou quase 11% no mesmo período. Diante da situação, a rede anunciou a parceria com a Impossible Foods durante a Eletronic Consumer Show, em Las Vegas (EUA), realizada em janeiro deste ano. Desde então, a versão 2.0 do Impossible Burger passou a ser incorporada no cardápio da empresa.
A rede de fast food Burger King, por outro lado, anunciou recentemente uma parceria para oferecer o Impossible Burger como opção para o produto carro-chefe da casa: o Impossible Whooper. Neste caso, ainda não há previsão para a chegada do produto no Brasil. Por aqui, o caso mais emblemático é o Futuro Burger. Desenvolvida pela Fazenda Futuro, considerada a primeira foodtech nacional, o hambúrguer surge com a proposta de sabor idêntico ao da carne bovina. Além do valor nutricional, o produto 100% vegetal não possui glúten, nem transgênicos e usa beterraba para imitar a cor e o sangue da carne.
Ainda no Brasil, a Superbom, empresa especializada na produção de alimentos para o público vegano e vegetariano, anunciou no final de abril o lançamento de um hambúrguer 100% vegetal. No total, a empresa investiu R$ 9 milhões para desenvolver um produto a base de ervilhas que também tem a proposta de imitar sabor, textura e cheiro da proteína animal.
O movimento é favorecido pela mudança no perfil dos consumidores, que estão mais preocupados com o meio ambiente, com a saúde e com o bem-estar animal. A busca por produtos que oferecem experiência semelhante às opções tradicionais ainda é reflexo da cultura da carne que existe há várias gerações e que demanda tempo para mudar. Mas quer seja um hambúrguer com gosto e aparência de carne ou um hambúrguer vegano raiz, o que importa é você ter opções veganas saborosas no seu cardápio. Afinal de contas, o mercado muda rápido e é preciso estar preparado para atender o novo público.
* Por Roberto Tenório, Redator da Sociedade Vegetariana Brasileira.