Cada vez mais, a população mundial está sofrendo as consequências das mudanças climáticas. Moradores de Miami-Dade, EUA, enfrentaram temperaturas acima de 50ºC durante 2022. No início de 2023, residentes e turistas de São Sebastião, litoral de São Paulo, testemunharam 640 mm de chuva em menos de 24 horas.
Essas condições deixam claro que as respostas da natureza em relação aos danos causados pelo homem serão cada vez mais agressivas. A única alternativa para reverter o cenário é adotar práticas sustentáveis, que vão de encontro com o bem-estar do meio ambiente.
As ações não apenas devem ser praticadas pela população, como também pela indústria, com destaque para a alimentícia. Afinal, adotar e seguir os indicadores ESG podem ajudar a enfrentar um dos principais desafios do setor: a sustentabilidade.
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O que são indicadores ESG?
A sigla ESG significa Environmental, Social and Governance. Se traduzida para o português, diz respeito ao ambiente, ao social e à governança empresarial. Os indicadores têm relação com práticas socialmente conscientes, ambientalmente sustentáveis e gerenciamento correto da empresa.
Os parâmetros ESG servem para mensurar a sustentabilidade das organizações. Ou seja, o que elas fazem para minimizar os efeitos da atividade industrial no meio ambiente. Tais esforços buscam proporcionar um futuro melhor, ao mesmo tempo que melhoram a gestão, a imagem e até mesmo aumentam a lucratividade do negócio.
Para ilustrar a relevância da pauta, o relatório da Bloomberg Intelligence revela que os ativos ESG ultrapassaram 35 trilhões de dólares em 2020. A projeção até 2025 é superior a 50 trilhões de dólares.
Já a pesquisa Global Reporting and Investor Survey, feita pela consultoria EY, mostra que a agenda ESG influencia a tomada de decisão de 99% dos investidores no Brasil.
O que significa cada letra da sigla ESG?
- Environmental (ambiental): avalia as ações de preservação do planeta;
- Social: mensura o relacionamento da empresa com funcionários, cliente e sociedade;
- Governance (governança): analisa a administração e as políticas empresariais.
A primeira letra da abreviação é usada para avaliar a postura da empresa sobre assuntos ligados ao meio ambiente e a manutenção da saúde da Terra. Uma série de fatores são considerados, incluindo o uso correto de recursos naturais.
Assim como acontece a seleção dos equipamentos utilizados na cadeia de produção e a quantidade de poluição emitida no ar e na água. Também é considerada a geração e descarte de resíduos, o desmatamento provocado e o nível de carbono lançado na atmosfera.
A parte social é representada pela segunda letra da sigla. Em relação à parte interna, mais especificamente aos funcionários, é observado as condições de trabalho oferecidas, saúde e segurança dos colaboradores.
Além de verificar o relacionamento com os consumidores e a preocupação com a comunidade de um modo geral.
Dentre as ações, destacam-se a oferta de programas de treinamento e cursos de qualificação, a aplicação das leis trabalhistas, o respeito aos direitos humanos, pluralidade no quadro de funcionários, postura durante o pré e pós-venda e a relação com a sociedade.
Enquanto isso, os indicadores ESG levam em consideração a governança da empresa, o que inclui a conduta dos executivos, transparência, ações do comitê de ética, atendimento ao cliente e atitudes contra a corrupção.
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Como os indicadores ESG são mensurados?
Em relação às questões ligadas ao meio ambiente, as empresas podem quantificar as ações por meio da eficiência energética e das métricas de reciclagem, por exemplo. Com isso, a gestão poderá tomar decisões com propriedade e terá ciência do que falta para atingir as metas da agenda ESG adotada.
A mensuração do social é realizada com pesquisas internas, com membros do quadro de funcionários. Isso é fundamental para descobrir o nível de satisfação, bem-estar e qualificação dos colaboradores.
No campo da governança, a mensuração é realizada com base na transparência da empresa, até mesmo pelos registros de corrupção. Os gestores podem, e devem, utilizar a tecnologia para conseguir dados e informações assertivas.
Benefícios para empresas que seguem as exigências ESG
Não faltam benefícios às empresas do segmento de alimentos que adotam o ESG. Demonstrar preocupação com o futuro do planeta e ter atitudes sustentáveis melhora a imagem perante a sociedade. Com isso, pode atrair novos investimentos ao empreendimento.
A agenda também auxilia na utilização consciente dos recursos, evitando desperdícios e, consequentemente, contribui para a redução das despesas. Mais do que isso, serve para estreitar a relação com os consumidores e como grande atrativo para conseguir novos clientes.
No setor de alimentos, a adoção da agenda ESG tende a potencializar a distribuição de alimentos e recursos. Além de proporcionar equilíbrio no desfruto de recursos e o retorno aos trabalhadores e, claro, ao meio ambiente.
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Como escolher os indicadores ESG da sua empresa?
É necessário avaliar o cenário, expectativas, demandas e tendências associadas às seguintes áreas: ambiental, social e econômica. Além disso, os encarregados pelo monitoramento do ESG devem ter entendimento sobre as necessidades e conhecimento dos riscos, oportunidades e consequências.
Após definir os indicadores, o próximo passo é a definição de métodos para a mensuração. O sistema deve ser pautado pelo equilíbrio, com dados simples, mas precisos. A complexidade tende a afetar o comprometimento das partes envolvidas.
Sabendo o que necessita ser medido e como a medição acontece, basta traçar compromissos palpáveis, que garantirão a evolução do negócio.
As etapas para cumprir a agenda ESG
Para garantir as certificações e os benefícios proporcionados pelos indicadores ESG, as indústrias precisam realizar adequações. A primeira etapa é delegar um responsável para cuidar das pautas ou até mesmo criar um conselho dentro da empresa.
Tanto o responsável quanto o conselho deverão fiscalizar as ações e ficarão incumbidos pelas adequações. Como, por exemplo, monitorar a produção de resíduos líquidos e sólidos, observar se há redução no uso de recursos da natureza e fiscalizar questões relacionadas à capacitação e qualificação dos colaboradores.
Outras práticas também são fundamentais: incentivo a ações sociais ligadas com a missão da empresa, comprometimento com a saúde dos funcionários e trabalhar com fornecedores que sigam os indicadores ESG.
Especialmente na indústria de alimentos, a implementação é cercada de desafios. O destaque fica para:
- Ausência da cultura de sustentabilidade;
- Poucos incentivos governamentais;
- Baixa mão-de-obra qualificada;
- Custos adicionais.
Principais indicadores ESG no Brasil
Como meio de comprovação, existem certificações que corroboram o comprometimento das empresas com os indicadores ESG. Isso ajuda, e muito, a análise de investidores e consumidores. Na sequência, veja as 4 principais certificações ESG emitidas no Brasil:
- Sistema B: também conhecido por movimento B, engloba empresas que prosperam sem abrir mão de pautas sustentáveis;
- Estratégia Investimento Verde: métricas criadas pelo Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) para inserir indicadores ESG em editais;
- Índice de Carbono Eficiente (ICO2): elaborado em 2010, graças a parceria entre a B3 e o Banco Nacional de Desenvolvimento Social e Econômico (BNDES), o ICO2 demonstra a preocupação das indústrias com a emissão de carbono;
- Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3): trata-se de uma ferramenta criada para analisar a sustentabilidade de empresas presentes na B3, a bolsa de valores brasileira.
Vale mencionar que adotar e seguir práticas sustentáveis não é mais um diferencial, mas quase que uma obrigatoriedade. Empresas na contramão da sustentabilidade tendem a perder espaço no mercado. Isso vale para empreendimentos dentro e fora do setor alimentício.
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