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Produção de carne: Menos terra, mais boi

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O futuro da pecuária na Amazônia depende do aumento da produtividade e não da expansão de áreas

Por Alexandre Mansur*

A produção em larga escala de carne bovina na Amazônia brasileira é um fenômeno relativamente recente, impulsionado por eventos marcantes ocorridos no início do século 21. A rápida ascensão do Brasil como exportador de carne e o controle da febre aftosa na região sul da Amazônia abriram as portas para o comércio exterior de carne bovina dessa região.

No entanto, esse progresso não se desvincula das complexas questões ambientais, econômicas e climáticas que envolvem a pecuária na Amazônia. Eles também mascaram um importante indicador: a Amazônia só produz muito boi, porque tem muita área e não porque conta com uma produtividade aceitável.

Essa baixa produtividade tem um fator histórico. A maneira como a cadeia produtiva se instalou na região amazônica foi baseada na rápida ocupação de terras, muitas vezes griladas, e a preocupação de expansão de novas áreas ao invés da manutenção de pastos e melhor cuidado com o rebanho. Tanto é que até a virada do século, a pecuária bovina na Amazônia estava predominantemente ligada à colonização e ocupação territorial.

O desmatamento, a construção de estradas e os incentivos fiscais impulsionaram essa atividade, mas os resultados produtivos foram limitados. O século 21 testemunhou uma transformação notável na dinâmica da indústria da carne na região, com a entrada de grandes frigoríficos no processamento. Entretanto, inúmeros desafios persistem.

A produção de carne na Amazônia continua a ser associada ao desmatamento, um meio frequentemente utilizado para expandir a criação de gado. Além disso, a produtividade média na região permanece baixa, apesar de exemplos de práticas sustentáveis de manejo. A emissão de gases de efeito estufa, tanto por conta do desmatamento como da produção de metano no pasto, agrava o impacto ambiental da pecuária.

A avaliação da produtividade da pecuária requer uma análise abrangente de indicadores como a taxa de lotação e a taxa de desfrute. A taxa de lotação mede a quantidade de gado por unidade de pastagem, enquanto a taxa de desfrute considera a proporção do rebanho destinada ao abate. Atualmente, os números dos estados da Amazônia são bem inferiores aos de São Paulo, no entanto, é crucial ir além desses indicadores e considerar o valor bruto da produção de carne por hectare dedicado à pecuária.


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A importância da produtividade e da colaboração entre os diversos setores envolvidos na cadeia de produção de carne é uma tendência. Essa abordagem ganha destaque entre os novos empreendimentos, que reconhecem a carne como um elemento central, indo além do simples manejo dos rebanhos e da ocupação de terras. Porém, os números atuais lançam luz sobre possíveis desafios na forma como as coisas estão funcionando.

Recentemente, os frigoríficos, que são os locais onde a carne é processada, têm enfrentado índices de ociosidade sem precedentes. Esse panorama é calculado ao comparar a capacidade diária de abate dos frigoríficos com o número real de abates realizados. Nos primeiros seis meses de 2021, as taxas de ociosidade atingiram 45% no Pará, 42% em Rondônia, 38% em Mato Grosso, 44% no Tocantins e 52% no Maranhão.

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De acordo com Paulo Barreto, pesquisador do Radar Verde, indicador que avalia o grau de controle e de transparência da cadeia da carne bovina no Brasil, essa situação complexa nos frigoríficos pode ser resultado de diversos fatores interligados. Primeiramente, o significativo investimento público na expansão da indústria de carne. Além disso, a exportação de gado vivo concorre diretamente com a oferta de animais para abate nos frigoríficos.

Fatores climáticos, como períodos consecutivos de seca, também impactam a produtividade em outras regiões do Brasil, influenciando essa dinâmica. A crescente demanda da China, aliada ao ciclo pecuário que permite a especulação de preços, também contribui para o quadro atual.

Independentemente das variáveis específicas, esses elementos complicam ainda mais o desafio de manter uma atividade econômica no segmento primário, seja através da exploração de terras ou do manejo do rebanho. Conforme as diferentes fases do ciclo pecuário se desenrolam, muitas vezes apenas metade da capacidade total dos frigoríficos é aproveitada.

Nesse contexto, é fundamental compreender as perspectivas dos produtores, frigoríficos e pesquisadores sobre as mudanças e tendências no setor. A busca por práticas mais sustentáveis e produtivas é essencial para equilibrar as demandas da indústria da carne com a conservação ambiental. O desafio reside em harmonizar o desenvolvimento econômico com a preservação da Amazônia, reconhecendo a interconexão entre a produção de carne bovina e a saúde do ecossistema.

Ou seja, a expansão da produção de carne bovina na Amazônia brasileira é um fenômeno que reflete transformações significativas no setor, impulsionadas por avanços econômicos e desafios ambientais. A busca por uma pecuária mais produtiva e sustentável é crucial para mitigar os impactos negativos e encontrar um equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a preservação da floresta amazônica.

*Alexandre Mansur é um dos coordenadores do Radar Verde e diretor de projetos do Instituto O Mundo Que Queremos.

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