O mercado de produtos orgânicos vem crescendo anualmente no Brasil e em todo o mundo. O Ministério da Agricultura aponta que no país o número de cadastros em sua plataforma triplicou nos últimos 7 anos. A expansão do setor está associada à mudanças de paradigma por parte dos consumidores, que querem se aproximar da origem de seu alimento e cuidar ainda mais da saúde. Embora os dados de consumo ainda não sejam completos, sabe-se que os produtos orgânicos ainda estão muito vinculados aos produtos frescos e minimamente processados. Por outro lado, a procura por processados como molhos, bebidas e massas continua crescendo significativamente e a indústria está investindo fortemente no setor.
Ainda que mais conscientes e preocupados com os alimentos, ambiente e saúde, dados da última pesquisa realizada pela Organis (2017), mostram que apenas 8% dos consumidores relatam reconhecer um produto orgânico pelo selo do Sisorg (Sistema Brasileiro de Avaliação de Conformidade Orgânica). E isso nos faz refletir sobre a seguinte questão: por que certificar um produto, como fazê-lo e qual a importância deste selo?
Produtos orgânicos representam muito mais do que a ausência de agrotóxicos em seu cultivo. Trazem como alicerces em sua definição diversas questões culturais, sociais e ambientais que não podem ser percebidas durante a sua degustação. Além disso, a semelhança física e até mesmo sensorial entre um produto orgânico - industrializado ou não - e o convencional faz com que a diferença entre eles seja dificilmente percebida ou identificada com clareza pelo consumidor. Desta forma, alguns autores caracterizam os produtos orgânicos como “bens de crença”.
Neste contexto, podem-se distinguir três tipos de “bens”:
a) os bens de procura, que oferecem todas as informações relevantes para a troca;
b) os bens de experiência, que após o consumo revelam dados como textura e sabor;
c) e os bens de crença, onde mesmo após o consumo não podem ser identificadas algumas informações relevantes, como o modo de produção, insumos utilizados e valor nutricional.
Por esse motivo é que, para os produtos orgânicos, faz-se necessário algum mecanismo de controle para assegurar que o consumidor tenha certeza de que está consumindo um produto coerente com o que diz seu rótulo.
A certificação - segundo a International Organization for Standardization (ISO), é o processo que se resume como a emissão escrita da garantia de conformidade do produto, na forma de um certificado. Além disso, assegura a coerência no processo de produção e revela a informação correta ao consumidor, evitando a ação de oportunistas e alegações falsas de processos ou produtos. Este mecanismo tem sido muito utilizado na comercialização de produtos alimentares, especialmente em segmentos de mercado com crescimento considerável, como o de produtos orgânicos.
Assim, fica evidente que é através da certificação que a qualidade de um produto orgânico - percebida pelo consumidor - é, de fato, assegurada. Outrossim, o processo de certificação de um produto orgânico gera credibilidade e agrega valor ao produto certificado por garantir que todos os requisitos - ambientais, culturais e sociais - também estão sendo devidamente cumpridos.
* Por Luiza Reguse, Gerente de Qualidade da Ecocert Brasil