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O papel central das pessoas na revolução da Inteligência Artificial

Estamos vivendo a Quarta Revolução Industrial e a Inteligência Artificial é peça central da engrenagem de transformação. Então qual o papel das pessoas? É o que explica Carlos Eduardo Carvalho, sócio-diretor da Bridge & Co.

*Carlos Eduardo Carvalho

A transformação pela qual o mundo está passando é analisada por muitos como similar às que marcaram as grandes revoluções industriais. Klaus Schwab, um dos principais nomes do Fórum Econômico Mundial, chama o momento que estamos vivendo de “Quarta Revolução Industrial” e posiciona a Inteligência Artificial (IA) como peça central da engrenagem de transformação.

Sobre a Quarta Revolução Industrial – centrada em IA

As principais características da Quarta Revolução Industrial, segundo a pesquisa liderada por Schwab, são:

Convergência de tecnologias: os mundos físico, biológico e digital estão cada vez mais se fundindo. A biotecnologia, robótica e a inteligência artificial estão possibilitando futuros inimagináveis no que tange aos humanos aumentados: próteses, chips e exoesqueletos cada vez mais viáveis e funcionais.

Transformação dos modelos de negócio: no futuro breve, toda empresa será uma empresa de serviços, centrada em dados e ampliada por IA. Hardwares cada vez mais são commodities que globalmente se equilibram em termos de capacidades. O que difere é o serviço agregado. O processo de servitização já é amplamente visto em indústrias como a automobilística, de computação pessoal e telefonia.

Impactos sociais e econômicos: essa acelerada onda de mudanças provocará alterações estruturais nas políticas de educação e emprego globais. O processo de aprendizagem já está sendo reconfigurado a partir do advento da IA Generativa. Mundo afora, milhares de posições de trabalho passam a ser desnecessárias com a economia dos múltiplos agentes inteligentes operando.

Qual é o papel das pessoas nessa revolução?

Embora, quando falamos sobre nosso futuro com o avanço da IA, paire uma nuvem cinza de dúvidas e receios alimentada por visões à la Skynet, não é muito por aí. O que temos de materialidade para crer que irá acontecer pela frente depende majoritariamente do engajamento e participação humana.

Até pouco tempo, nos anos 2010, as Inteligências Artificiais ainda não eram capazes de distinguir se uma foto era de um cachorro ou de um gato. Apenas a partir de 2014 os modelos de aprendizagem de máquina evoluíram a ponto de superar taxas mínimas de acerto.

De lá para cá, é fato que muita coisa avançou impulsionada pela rápida expansão da capacidade computacional. Atingir 150 gigaflop/dólar de capacidade computacional já nos levou a ter uma sensação de “prontidão” dos modelos de IA para muita coisa.

Mas, por trás dos panos, tudo o que vemos saindo na mídia tem a mão do ser humano. E essa mão não é uma mão de apoio. É a mão de comando e de direcionamento. Destaco o que é função nossa (raça humana) nessa Quarta Revolução Industrial:

Criar os modelos computacionais: sim, é verdade que já temos aplicações de modelos computacionais sendo criados por máquinas. No entanto, estamos em estágios embrionários. A maioria dos modelos computacionais que usamos são pensados e arquitetados por mentes humanas, capazes de um nível de abstração e processamento ainda inatingível. A IA e a máquina têm papel fundamental em tirar esses modelos de suas versões conceituais e criar o ciclo de aprendizagem e refinamento. Porém, podemos dizer que as máquinas servem a nós nesse processo.

Treinar os modelos e definir os limites: somos nós que orientamos e guiamos o treinamento da maioria dos modelos de IA. O processo de aprendizagem de máquina, mesmo os mais profundos e mais robustos, carece de feedbacks e loops de aprendizagem que nós, humanos, damos. Lembre-se que até hoje, 2024, temos constantemente que ensinar aos modelos de geração de imagem que o ser humano não tem seis dedos e que pessoas não atravessam paredes nos vídeos gerados por IA.

Montar e aplicar os critérios éticos e de regulação: seremos nós, humanos, os guardiões das fronteiras éticas e da regulação da Quarta Revolução Industrial. O mau uso está aí. Aplicações de deep fake, pornografia digital, invasão de privacidade, quebra de direitos autorais. A IA avançou mais rapidamente do que as discussões sobre regulação, que estão em pauta na União Europeia com o AI Act e no Brasil com o PL 2338, para citar alguns.

Conclusão

Toda vez que você ler algo preocupante sobre o avanço de IA no mundo, pare e volte à reflexão que proponho nesta leitura. Não estamos falando de uma superinteligência capaz de se multiplicar sozinha sem fronteiras e leis, como os fãs de Exterminador do Futuro cresceram imaginando. Estamos falando de um conjunto de modelos matemáticos e probabilísticos, pensados por humanos e potencializados por aprendizagem profunda, que precisam ser treinados, orientados e guiados por nós.

Somos seus mestres, e não o contrário. O que fica de maior lição para todos nós é, como raça humana, centrarmos o discurso em regular aquilo que é necessário para evitar o mau uso, sem deixar de lado a visão de que essa tecnologia está aí para transformar para o bem a nossa vida. Seja na saúde, na pesquisa de vacinas, na engenharia de materiais ou na eficiência operacional de empresas, a IA pode nos levar para um novo patamar de PIB global e de acesso à informação. Olhar o prisma positivo é o meu convite final.

Se você está animado, assim como eu, capacite-se e aperte os cintos. Boa jornada!

*Carlos Eduardo Carvalho é Sócio-Diretor da Bridge & Co. É mestre em Engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ, auditor ISO 20.000, certificado ITIL Expert e CGEIT, entre outras. É professor de pós-graduação em Estratégia e Governança de TI em instituições como UFRJ, UFJF e FGV. Possui experiência em projetos de grande porte de transformação digital, desenho organizacional de áreas de TI e elaboração de processos orçamentários para Tecnologia da Informação.

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