*Por Carolina Abrantes
Em meu último artigo, abordei as possíveis fontes de patrocínio e financiamento para iniciativas de inovação nas empresas. No entanto, esses são apenas dois dos inúmeros pilares que impulsionam ao sucesso a inovação nas empresas.
Início do ano e muitos de nós fazemos resoluções e promessas. Cá entre nós, quantas dessas vão em frente e quantas ficam para trás? Isso depende da sua real intenção, sua motivação, capacidade de execução e, muitas vezes, também de fatores externos.
Com as empresas não é diferente: mudar um hábito corporativo é complexo.
Uma empresa é feita de processos. Processos envolvem pessoas e pessoas possuem comportamentos que influenciam diretamente o resultado desses processos. Por mais que as empresas tentem reduzir o impacto do comportamento individual com governança, sistemas, auditorias etc. é inegável que a forma como cada pessoa trabalha influencia o desempenho organizacional.
Nesse contexto, a cultura nada mais é do que uma maneira de direcionar o comportamento coletivo numa direção alinhada aos interesses da empresa. Se uma empresa quer mudar um resultado, a cultura também precisa mudar.
Dessa maneira, se a sua empresa deseja ser bem-sucedida em inovar, isso passa por conseguir incorporar a inovação em sua cultura. Abaixo, elenco algumas ações que vejo ter bons resultados nesse sentido:
- O exemplo: mais do que palavras, o exemplo arrasta. Isso também serve para cultura corporativa. Se a alta camada de liderança da empresa não está aberta ao novo, não se demonstra adaptável, questiona constantemente as proposições se apegando “ao que sempre funcionou”, o restante da empresa não terá muito incentivo para fazer diferente. Em contrapartida, mudanças requerem paciência e persistência. Por maior que seja a vontade, a prática é árdua e requer paciência de todos os lados. Nesse processo, diálogo e transparência são fundamentais. Será que realmente queremos incentivar a inovação e estamos dispostos a enfrentar os desafios que isso trará?
- Uma estrutura organizacional certa: equipes focadas em P&D, estruturas organizadas entre o “modo 1” ou “run the business”, “modo 2” ou “transform the business” e times multidisciplinares engajados em torno de desafios estratégicos são práticas usadas por muitas empresas bem-sucedidas na cultura de inovação. São inúmeras as formas que a estrutura pode facilitar a organização dos colaboradores em torno da inovação.
- Comunicação e divulgação: assim como dar exemplo, dar voz às iniciativas de inovação mostra a prioridade que a empresa dá ao assunto. Divulgar as iniciativas que deram certo ajuda a incorporar novas práticas. Tão importante quanto, divulgar iniciativas que não foram para frente ajuda a lidar melhor com frustrações.
- Sistema de recompensa: o clássico “Diga-me como me mede que te direi como me comporto.” Infelizmente, vemos uma enorme dificuldade das empresas em conseguir materializar um sistema de recompensa que equilibre a entrega de resultados a curto prazo com o incentivo à inovação e resultados a médio ou longo prazo. Não existe fórmula pronta. Boas práticas devem ser usadas como pano de fundo, mas cada empresa precisa pensar incentivos que façam sentido para sua realidade.
- Consistência e resiliência: são fatores fundamentais para solidificação de qualquer novo hábito, inclusive os corporativos. Inovação pode trazer resultados imediatos, mas os grandes números precisam de tempo. Fazer apenas um hackaton, dar apenas um prêmio em um ano isoladamente ou fazer apenas uma sessão de palestras sobre o tema não trará a consistência necessária para que a cultura da inovação seja uma realidade. Provavelmente, existirão mais fracassos do que sucessos ao longo dessa jornada. Resiliência é fundamental.
A fórmula é complexa: patrocínio político, patrocínio financeiro, mudanças estruturais, exemplo, comunicação, sistema de recompensas, resiliência, consistência e inúmeras outras variáveis não citadas. Tudo isso competindo com fatores internos e externos que forçam as empresas a darem atenção apenas ao curto prazo ou à própria sobrevivência.
Para muitos, os pontos acima são clichês, sem grandes novidades. Mas, então, por que vemos uma dificuldade tão grande das empresas em colocar tudo isso em prática?
O fracasso mora nos detalhes e, muitas vezes, culpamos fatores que achamos estar fora de nosso controle, assim como nos autossabotamos e passamos a mão na nossa própria cabeça ao não conseguir atingir uma resolução de ano novo. O primeiro passo começa com uma pergunta que pode parecer simples, mas é profunda: sua empresa realmente quer ser inovadora?
É com grande prazer que continuaremos juntos por aqui em 2024 refletindo sobre tecnologia, transformação digital e inovação.
*Carolina Abrantes, Sócia-diretora e cofundadora da Bridge & Co.