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A impressão 3D de alimentos já faz parte dos seus esforços de P&D?

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A impressão 3D chegou à produção dos alimentos como uma das tecnologias com maior potencial para perturbar a forma de pensar a cadeia. Saiba mais neste artigo de Cristina Leonhardt.

A impressão 3D já está invadindo o mundo dos alimentos: é uma das tecnologias com maior potencial para perturbar a forma como pensamos a nossa cadeia. Com ela, poderemos redistribuir o poder de produção de alimentos dos atuais megaconglomerados para milhares de microprodutores, mais ou menos como migramos dos supercomputadores para a computação em rede.

Caso você esteja criando um mapa com as tecnologias que precisam ser monitoradas pelos seus esforços de Pesquisa e Desenvolvimento, eu lhe convido a colocar a impressão 3D de alimentos no radar. Neste artigo, vou trazer um painel amplo do status desta tecnologia, com os principais atores que precisam estar no seu horizonte.

Este não é um campo exatamente novo. Nas áreas de plástico e metal, a impressão 3D – uma das possíveis tecnologias usadas na manufatura aditiva –, já é um conceito bem estabelecido. A primeira impressora 3D comercial foi desenvolvida em 1983, por Chuck Hull. Em 1986, Hull funda a 3D Systems, a primeira empresa de impressão 3D.

A aplicação deste conceito em alimentos, contudo, é mais recente: o laboratório de Máquinas Criativas da Universidade de Cornell, agora na Universidade de Columbia, é creditado com a criação da primeira impressora 3D de alimentos em 2005. Em 2013, a NASA financiou um estudo de 125 mil dólares com a SMRC, para avaliar a viabilidade de usar a tecnologia para a alimentação de astronautas em viagens espaciais – aliás, mais um caso em que a agência está envolvida no avanço da tecnologia de alimentos.

Caso você não tenha percebido, a impressão 3D carrega consigo a possibilidade de acabar com os parques industriais como os conhecemos hoje e, talvez, para a indústria de alimentos, seja a tecnologia mais disruptiva já disponível.

Por que a impressão 3D vai mudar a indústria de alimentos?

Quando a impressão 3D tiver alcançado o seu estágio de maturidade, ao invés de parques industriais gigantescos e especializados, teremos pequenas unidades de impressão espalhadas ao redor do mundo, com impressão customizada, de acordo com o desejo do consumidor. É (por enquanto) o auge que se pode pedir da personalização da produção em massa.

Em 2016, a Barilla apresentou ao mundo a sua impressora 3D, fruto de um concurso lançado pela empresa em 2014, vencido pela organização holandesa para pesquisa científica aplicada TNO. A BluRhapsody é a spin-off do projeto, oferecendo massa em formatos exclusivos como ânforas, esferas, mexilhões, cauda de lagosta e ouriço do mar e o que mais a imaginação mandar. Assim como boa parte desta indústria nascente, a BluRhapsody tem um foco no food service, mas já começou a vender suas criações diretamente para o usuário doméstico em algumas cidades da Europa.

No mundo dos doces, a Katjes, empresa alemã de confeitos, lançou em 2016 lojas conceito (Magic Candy Factory) com impressão 3D de goma de fruta, uma forma de explorar o futuro desta categoria. O negócio agora foca em eventos corporativos, casamentos e outras experiências.

Achou que colocar o seu nome na latinha da cola era personalização? Pense em produzir o refrigerante exatamente com a formulação que você deseja beber naquele dia. E, no dia seguinte, com outra.

startup Nourish3d emprega a tecnologia de impressão 3D para produzir vitaminas personalizadas em formato de goma. No site da empresa, o usuário pode tanto escolher produtos já desenvolvidos, quanto desenvolver a sua própria combinação de nutrientes, através de um quiz online ou de uma ferramenta de personalização.

Eu optei pelo quiz: o site formulou para mim uma combinação de maca em pó, o probiótico Lactospore®, extrato de semente de cardo de leite, extrato de gengibre, extrato de Ashwagandha, ácido fólico (mães amamentando e grávidas respondem sim à mesma pergunta) e vitamina D3 vegana. Possivelmente, nada do que eu iria buscar para os meus objetivos de ter mais energia e um melhor balanço emocional. Posso então optar por uma inscrição mensal, e receber 28 vitaminas a cada mês, ou fazer uma compra individual.

Fundada por Melissa Snover, que também está por trás do projeto da Katjes, a Nourish3d é um exemplo de como a impressão 3D pode trazer maior flexibilidade para os processos, ajudando a indústria a navegar neste novo cenário de ultrapersonalização.

A tecnologia da impressão 3D de alimentos está bem estabelecida, principalmente para as categorias de massas, chocolate e açúcar. Alguns atores que estão à frente do desenvolvimento tecnológico incluem:

  • Natural Machinesstartup espanhola fundada em 2012, produtora do Foodini, impressora de bancada acoplada com IoT, capaz de trabalhar com diferentes alimentos;
  • Print2Tastestartup alemã, lançou em 2019 a Mycusini, a primeira impressora 3D de chocolate projetada para atingir o público consumidor;
  • byFlowstartup holandesa fundada em 2015, produz a impressora 3D Focus, portátil e com um design minimalista.
  • Creative Machines Lab: o laboratório que estuda robôs que “criam e são criativos”, explora sistemas autônomos com uma equipe multidisciplinar e trabalha com diferentes materiais. É creditado como o inventor da tecnologia de impressão de 3D de alimentos e estuda, no momento, a aplicação de laser para cozimento da comida impressa.
  • TNO: o centro de ciência aplicada do governo holandês, ganhador do primeiro concurso para a construção de uma impressora 3D para a Barilla, tem mais de 25 anos de experiência em manufatura aditiva.

Atores para manter no radar: Natural Machines, Barilla, Katjes, Melissa Snover, Nourish3d, Print2Taste, byFlow, The University of Queensland, TNO, Universidade de Wageningen, Eindhoven University of Technology, The Creative Machines Lab (Universidade de Columbia).

Uma brasileira é pesquisadora da área e editora de um dos principais livros sobre Impressão 3D de alimentos - e já palestrou conosco no Happy FoodTech em 2020. Veja a palestra completa da Fernanda de Godoi neste vídeo, em que ela aponta os principais 4 desafios para a impressão 3D de alimentos no momento:

  1. Formulações com alta printabilidade, que sejam naturais e nutritivas
  2. Desafio tecnológico de adaptação do software para a matriz alimentícia
  3. Garantir a segurança de alimentos, considerando as pastas que são impressas
  4. Escalabilidade

Como pode ser visto, a impressão 3D de alimentos já está batendo à porta da indústria. Os desafios do seu emprego podem ser superados pelos avanços na tecnologia de alimentos, principalmente porque respondem a um anseio antigo dos sujeitos: a minha comida tem que ser feita especialmente para mim.

Com o desenvolvimento da nutrigenômica – que é a ciência que relaciona a alimentação à nossa saúde – a impressão 3D pode ser uma tecnologia de grande interesse. O que você tem feito para navegar neste assunto? Seus esforços de Pesquisa e Desenvolvimento já começaram a mapear este território tecnológico? Vale lembrar que o horizonte de P&D deveria ser para o futuro – projetos que serão lançados daqui a 3 a 5 anos. Se todo o seu quadro de P&D está trabalhando em projetos de mais curto prazo, quem está preparando o futuro da inovação tecnológica da sua empresa?

 

*Cristina Leonhardt é Engenheira de Alimentos (UFRGS), com MBA em Gestão Empresarial (FGV), Mestranda em Design Estratégico (Unisinos). Fundadora da Sra. Inovadeira e Tacta Food School. Atua com Gestão Estratégica de P&D e Inovação e projetos de desenvolvimento de alimentos. Mentora da Startup Weekend e de foodtechs.

 

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