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Está nas mãos da pecuária ajudar a zerar o desmatamento na Amazônia

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Dar transparência a uma das principais atividades econômicas do Brasil é essencial para gerenciar os impactos ambientais e fortalecer a reputação institucional do segmento.

Em São Paulo, durante evento promovido no fim do mês de abril por uma multinacional do setor de alimentos, o vice-presidente do Brasil e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, afirmou que o desmatamento na Amazônia não é responsabilidade de agricultores ou pecuaristas, mas é causado por grileiros de terras.

De fato, quase um terço da Amazônia é formada por terras públicas sem destinação e, portanto, ameaçadas pela grilagem. Mas, segundo um estudo do projeto Amazônia 2030, a legislação brasileira atual já é suficiente para proteger boa parte dos 143 milhões de hectares de terras da União, Estados e municípios. Para isso são necessários ajustes em decretos e maior fiscalização.

Porém, não se engane, a pecuária brasileira está diretamente relacionada ao desmatamento da maior floresta tropical do planeta. De acordo com o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), pastos para o gado cobrem cerca de 90% da área total desmatada e mais de 90% do desmatamento total é ilegal. Ou seja, a carne e os subprodutos que saem da região, comercializados em todo o Brasil e em outros países, podem estar relacionados à destruição da Amazônia.

Por isso, dar transparência à cadeia de alimentos é uma tendência, sobretudo diante de consumidores cada vez mais exigentes e conscientes. Contudo, no Brasil, as empresas da cadeia de carne bovina, principalmente as que estão em atividade na Amazônia, são resistentes em revelar informações das etapas de produção, embora a região concentre 43% do rebanho bovino do país, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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Floresta tropical recentemente cortada e queimada transformou-se em uma fazenda de gado na Amazônia, onde a pecuária é a maior causa de desmatamento.

Em 2022, o Radar Verde, primeiro indicador público do grau de transparência da cadeia pecuária bovina no Brasil, convidou 90 frigoríficos e 69 redes varejistas para responderem a um questionário, informando quais são as políticas adotadas para combate ao desmatamento da Amazônia, em cada etapa da produção e comercialização da carne. Apenas 5% das empresas aceitaram participar do levantamento. Nenhuma autorizou a divulgação de sua classificação final.

Para assegurar a procedência da carne bovina brasileira, é necessário fazer o monitoramento de toda a cadeia produtiva, iniciando na fazenda de origem do bezerro e seguindo o trajeto completo que a carne percorre até chegar aos consumidores. Esse controle permite que produtores rurais, frigoríficos e varejistas avaliem e gerenciem os efeitos ambientais. Identificar e mitigar as ameaças garantem a sustentabilidade do setor a longo prazo.

Monitorar a cadeia da pecuária é também garantir a rastreabilidade, ou seja, a capacidade de identificar a origem e a trajetória dos animais e dos produtos derivados, processo importante para assegurar qualidade e para evitar a comercialização de produtos ilegais ou produzidos de forma irresponsável. A transparência no segmento é essencial, principalmente no que se refere à reputação institucional e segurança dos investimentos.

A demanda e a produção brasileira de carne bovina devem crescer entre 1,4% e 2,4% nos próximos dez anos, de acordo com projeções do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). E será possível atender a esse consumo crescente sem precisar derrubar mais nenhuma árvore, com o emprego de técnicas e recursos financeiros que já estão disponíveis, somados à uma coordenação política eficiente. A pecuária no Brasil tem nas mãos a oportunidade de ajudar a zerar o desmatamento na Amazônia.

*Autora: Ritaumaria Pereira

Pesquisadora Adjunta e Diretora Executiva no Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), com pós-doutorado em Ciências Ambientais no Laboratório de Uso da Terra e Meio-Ambiente do Instituto Nelson de Estudos Ambientais, da Universidade de Wisconsin-Madison. Possui graduação em Engenharia Agronômica pela Universidade Federal da Bahia (2001), mestrado em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (2003) e doutorado em Geografia - Michigan State University (2012). Atua na Amazônia desde 2002. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia dos Recursos Naturais, atuando principalmente nos temas da pecuária, reforma agrária e desenvolvimento econômico.

 

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