*Autor: Paulo Barreto, Radar Verde
A capacidade humana de usar e transformar a natureza permitiu um progresso no bem-estar impressionante, como abundância de alimentos, moradias confortáveis e cuidados médicos. Mas também criou uma crise climática perigosa para a humanidade.
As catástrofes climáticas são mais frequentes, incluindo secas, chuvas, deslizamento de encostas, ondas de calor e frentes frias. Além de perdas de vidas humanas, esses eventos têm reduzido a produção agropecuária e aumentado a inflação e o custo da energia, com menos água nas hidrelétricas.
A causa da crise climática é o excesso de poluentes que lançamos na atmosfera por meio da queima de combustíveis, para nos movimentar e rodar máquinas industriais, a queima de florestas para abrir espaço para a agropecuária, o aumento de criação de animais que geram gases na digestão (como os bovinos), entre outras atividades.
O excesso de poluição provocou o aumento da temperatura média da atmosfera em 1,1 centígrados em comparação com a média entre 1850–1900, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, das Nações Unidas (IPCC). Parece pouco, mas já foi o suficiente para a desregulação de padrões climáticos.
Cientistas que produzem os relatórios do IPCC alertam que esses eventos tendem a piorar se não mudarmos a forma de produzir e consumir. Uma crise climática mais aguda significaria mais pobreza, desigualdade social, migração e aumento de conflitos. Mas, o que precisamos mudar para evitar o pior da crise climática?
No caso brasileiro, as prioridades mais imediatas estão na agropecuária. Em 2021, o setor emitiu 74% dos gases causadores das mudanças do clima, segundo o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG).
Cerca de metade das emissões foram por causa de desmatamentos (principalmente da Amazônia e do Cerrado). As emissões diretas da agropecuária somaram 25% e foram quase 17 vezes maiores que as do setor industrial do país.
Uma boa notícia é que o Brasil pode reduzir o desmatamento e aumentar a produção agropecuária. Parte do desmatamento desde a década de 1970 foi incentivado por políticas equivocadas de ocupação da Amazônia.
Isso fez com que houvesse muito desmatamento desnecessário, o que acaba desestimulando o uso eficiente das áreas já abertas. Sabemos disso pois quando o Brasil combateu o desmatamento fortemente entre 2005 e 2012, fazendeiros adotaram tecnologias para aumentar a produtividade agropecuária nas áreas já desmatadas.
Podemos continuar aumentando a produção, pois a Amazônia conta com uma área desmatada de 86 milhões de hectares. Essa área poderia mais do que abrigar a demanda adicional de produção agropecuária até 2030, segundo análise do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) para o projeto Amazônia 2030.
Ainda sobrariam cerca de 37 milhões de hectares (quase duas vezes o território do estado do Paraná) para outros usos, sobretudo para o promissor mercado de restauração florestal (plantio de árvores nativas em áreas desmatadas para recuperar a floresta original).
Esse mercado está crescendo, porque as árvores retiram o gás carbônico da atmosfera para crescer e assim reduzem o risco climático. Reduzir o desmatamento e restaurar florestas ajudariam a reduzir os riscos climáticos para a própria agricultura brasileira, pois as mudanças do clima têm resultado em menos chuvas em algumas regiões e excesso em outras.
Melhorar a produtividade da pecuária também reduziria fortemente as emissões do Brasil. Ao reduzir o tempo que o gado fica no pasto, cairiam as emissões de gás metano que os bois produzem durante a digestão. O gás metano é 80 vezes mais potente para o aquecimento global do que o gás carbônico.
A relevância do agronegócio para as emissões do país impõe uma responsabilidade estratégica sobre financiadores, agroindústria e produtores rurais. Estes setores têm a chave para um progresso mais limpo do Brasil.
*Paulo Barreto é mestre em ciências florestais pela universidade Yale e pesquisador associado do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e do projeto Amazônia 2030.
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