Pesquisas científicas recentes e avanços tecnológicos têm desmistificado antigas crenças sobre a gordura de origem animal e a criação de gado de corte. No painel “Desvendando mitos e verdades na cadeia produtiva de carne, rumo à comunicação ética da indústria”, realizado durante o segundo dia do Fórum ESG na Arena Conteúdo Tecnocarne, especialistas discutiram os novos avanços do setor.
Sérgio Pflanzer, professor da Universidade de Campinas (Unicamp), destacou que a associação entre o consumo de gorduras animais, especialmente ácidos graxos saturados, e doenças cardíacas, coronarianas e diabetes, difundida desde os anos 1960 e 1970, está sendo reavaliada. “A ciência descobriu muita coisa da década de 1970 para cá e a gordura animal não está necessariamente ligada a doenças cardíacas ou ao aumento do colesterol, ou mesmo a diabetes, mas sim o alto consumo de açúcar, por exemplo”, afirmou.
Hoje a ciência tem mostrado que a dieta rica em proteínas e gorduras é benéfica. Uma alimentação balanceada com baixo consumo de açúcar, por exemplo, associado à diabetes, e sem exageros é o mais indicado para a prevenção de doenças.
Para a coordenadora técnica da ABPA - Associação Brasileira de Proteína Animal, Tabatha Silvia Rosini Lacerda, a questão da comunicação precisa ser bem trabalhada para a informação correta chegar ao consumidor.
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Segundo a coordenadora, o ovo, que já foi o vilão do colesterol, hoje não é mais. Ela cita também o mito do hormônio na criação de frango, o que é proibido pela legislação. “É essencial para a cadeia produtiva de carne fazer chegar ao consumidor informações corretas sobre questões polêmicas. Nós da cadeia temos que comunicar melhor o consumidor sobre as informações técnicas do setor produtivo”, diz.
“A ABPA tem se esforçado em levar às pessoas mensagens mais simples a fim de acabar com mitos como o do ovo ou o uso de hormônio no frango que seria prejudicial à saúde. É importante dizer que o Brasil é um dos principais produtores de proteína animal não por acaso, mas porque desenvolveu e utiliza tecnologia de ponta que ajudou a chegarmos aonde estamos”, destacou Tabatha.
Questões ambientais
Roberto Giolo de Almeida, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e especialista em gado de corte, abordou a questão ambiental.
Ele explicou que o Brasil, que tem 20% do mercado externo de carne, desenvolveu tecnologias que reduzem significativamente a produção de gás metano, um dos principais responsáveis pelo efeito estufa, produzido durante o processo digestivo dos bovinos.
Almeida apontou três métodos eficazes: manejo adequado da altura das pastagens, integração de leguminosas na dieta animal, e seleção genética para reduzir a produção de metano e promover o abate precoce.
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“Temos tecnologias de pecuária de corte para minimizar. Os três maiores frigoríficos do país têm seus programas específicos de redução da emissão de gases do efeito estufa. A pecuária bem feita, bem produzida é sim amiga do meio ambiente”, diz.
“O Brasil é sustentável na produção animal. A Europa não é mais nosso principal mercado e tem forte protecionismo em relação à produção brasileira. Hoje o principal mercado é a China.” Segundo o pesquisador da Embrapa Gado de Corte, a China detém mais de 50% do mercado brasileiro. “Também tem suas exigências, mas não tanto quanto a Europa, e nossa carne atende aquele mercado”, diz.
Existe uma verticalização na produção, ou seja, o frigorífico criar gado. A demanda externa estimula a entrada dos frigoríficos na criação e hoje o Brasil tem capacidade de abate muito maior do que é utilizada. Segundo pesquisa da Embrapa, 25% dos entrevistados concordariam em pagar mais por uma carne com selo de sustentabilidade seguindo os pilares do ESG.
O selo Carne Carbono Neutro (CCN) desenvolvido pela Embrapa, atenta que a carne bovina foi produzida com alto grau de bem-estar animal, em sistemas em integração do tipo silvipastoril (pecuária-floresta, IPF) ou agrossilvipastoril (lavoura-pecuária-floresta, ILPF) (Fonte: Embrapa). “Hoje o consumidor está mais exigente, e isso vai pressionar o produtor”, conta Almeida.
Ainda em relação à comunicação, a coordenadora Tabatha enfatiza: “Precisamos nos comunicar melhor com o consumidor, cuidar do produto final, da comunicação visual nas gôndolas, o marketing, as embalagens e a apresentação no PDV”, finaliza.
*Atualizado em 08/10/2024
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